Um peso saudável nos cães não só significa melhor qualidade de vida como menor risco de estados de saúde graves associados à obesidade. A boa notícia é que se o seu cão tem peso a mais, há maneiras de o ajudar a recuperar a forma e a manter um peso saudável. Siga os passos indicados abaixo para descobrir se o seu cão está com excesso de peso. Na dúvida, fale sempre com o médico veterinário para obter a ajuda mais adequada em cada fase da vida.
Para esclarecer algumas questões sobre a melhor gestão de peso nos cães, falámos com a médica veterinária Joana Pereira, da Royal Canin, que deixou ainda alguns alertas sobre os perigos do excesso de peso para os animais de estimação.
Como saber, em casa, se o cão está com excesso de peso?
“Há duas formas relativamente simples de avaliar a condição corporal dos animais e que os tutores podem utilizar em casa como primeiro indicador para descobrir se o cão está com excesso de peso ou obeso”, começa por esclarecer a médica veterinária.
1º passo: avaliar o perfil visto de cima e o perfil de lado da silhueta do animal
“Esta avaliação vai, naturalmente, variar muito consoante a raça, o porte e a morfologia típica do animal. Mas, em geral, o cão com uma condição e peso saudável tem uma cintura relativamente definida, uma clara transição entre a parte torácica e abdominal (quando observado de cima e de lado), sendo a zona da barriga mais estreita. Se o tutor notar que a silhueta do animal está a ficar mais “arredondada”, está na altura de o levar à consulta para controlo do peso”, explica Joana Pereira.
2º passo: tentar sentir as costelas do animal através do pelo e da pele
“Passando os dedos ao de leve. Se for possível sentir as costelas, mas não forem proeminentes, então provavelmente o animal estará com um peso e condição corporal saudáveis. Se o tutor sentir as costelas sob uma camada mais “farta” de pele ou já não for possível de todo senti-las, geralmente é por estarem cobertas por gordura em excesso – e provavelmente estaremos já perante uma situação de excesso de peso ou até obesidade”, alerta.
“Um cão com uma proporção ideal terá costelas que podem ser facilmente sentidas mas não de forma demasiado definida, terá uma cintura que pode ser vista de cima e um abdómen que se encolhe atrás da caixa torácica quando visto de lado”, identifica a médica veterinária.
Há outros sinais a que deve estar atento, relacionados com o comportamento do cão, sendo que a médica veterinária Joana Pereira alerta para algumas diferenças que pode encontrar: “Um animal com excesso de peso tende a cansar-se com mais facilidade, a ser menos entusiasta nos passeios e brincadeiras, tem mais dificuldade em mover-se e, por isso, tenta fazê-lo o menos possível.” Há a tendência para os tutores assumirem que estes comportamentos estão associados à idade. É preciso estar atento e não desvalorizar estas alterações!
“O importante é que as pessoas tenham noção de que esta não é uma mera questão estética – é um verdadeiro problema de saúde, com consequências negativas na vida dos animais”
“A situação é tanto mais grave quanto maior for o grau de excesso de peso – sendo pior por isso em animais obesos. A boa notícia é que os animais conseguem recuperar em termos de vitalidade e qualidade de vida após o processo de perda. A obesidade é a doença nutricional mais prevalente em gatos e cães nos dias de hoje. No entanto, é tratável e conseguimos fazer algo para os ajudar – mas o primeiro passo tem de partir do reconhecimento do problema”, esclarece a médica veterinária.
Diagnóstico na consulta com o médico veterinário
A confirmação do excesso de peso é feita na consulta com o médico veterinário através do peso do cão, num primeiro momento, seguida da utilização de uma escala que avalia o índice de condição corporal (ICC), através de indicadores como a visualização e palpação das costelas, cintura e abdómen do cão, conforme explica Joana Pereira. Este sistema baseia-se numa escala de 9 pontos, que começa no muito magro até ao severamente obeso. A pontuação de 4-5 corresponde à condição mais saudável e ideal de cada cão.
“O excesso de peso é uma fase inicial do problema, quando o animal tem cerca de 10-20% acima do seu peso saudável”, expõe a médica veterinária. Segundo a médica veterinária da Royal Canin, Joana Pereira, há algumas “fórmulas” que podem ajudar a controlar o excesso de peso:
- Alteração para uma gama “light” (ou mesmo uma dieta terapêutica para promoção da perda de peso, desde que devidamente acompanhada pela equipa veterinária)
- Implementação de alguns comportamentos e rotinas diárias que podem ajudar a reduzir a ingestão de calorias e a aumentar o gasto das mesmas ao longo do dia (aumentar a duração dos passeios, por exemplo, reduzir o número de guloseimas diárias, repartir a dose diária de alimento por mais refeições, usar brinquedos interativos que prolonguem a duração de cada refeição...).
Já um cão obeso apresenta-se com 20% acima do peso saudável. Neste caso, “será mesmo necessário recorrer à ajuda de um médico veterinário no sentido de realizar alguns exames, despistar possíveis doenças e cumprir um plano alimentar adequado. Só com uma dieta específica e com um acompanhamento adequado pela equipa veterinária vai ser possível reverter a situação de forma segura e eficaz”, explica.
“Em caso de suspeita, o mais indicado será consultar um médico veterinário, que poderá diagnosticar o problema, determinar a origem e implicações já presentes na saúde do animal. Só com estas informações será possível implementar as medidas terapêuticas necessárias que passam também pela adaptação da dieta, dos padrões de exercício ou do estilo de vida do animal. Monitorizar o peso dos animais e reconhecer quando está acima do desejável é crucial para garantir que não fica com a saúde debilitada”
Há cães mais propensos a ganhar peso do que outros?
São vários os fatores e condicionantes associados ao excesso de peso, sendo que a médica veterinária aponta para um dos mais relevantes: o metabolismo de cada animal, “cuja taxa tem tendência a reduzir em animais esterilizados e com o avançar da idade”. Mais: “as cadelas, em particular, são mais propensas a ter excesso de peso e quando esterilizadas esta probabilidade aumenta duas vezes”. Também “os cachorros que apresentam excesso de peso ou já obesos durante a fase de crescimento têm maior probabilidade de se tornarem obesos na idade adulta do que os cachorros que crescem com uma condição corporal e peso saudáveis”, acrescenta. Há que ter ainda atenção à espécie e raça do seu animal de estimação!
Raças mais propensas a ganhar peso
O problema é mais frequente em algumas raças de porte pequeno e em idades relativamente jovens. Deixamos alguns exemplos:
- Pug
- Teckel (ou Dachshund)
- Corgi
- Cavalier King Charles
Há ainda outras raças bastante predispostas ao ganho de peso excessivo:
- Labrador Retriever
- Beagle
- Cocker Spaniel
- Golden Retriever
O meu cão é obeso. E agora?
Um cão com excesso de peso ou obesidade tem “maior probabilidade de contrair doenças graves e, consequentemente, acontecem alterações na qualidade de vida e até na longevidade”, alerta a médica veterinária. Sabia que a esperança de vida do cão reduz significativamente, até cerca de dois anos? “Diabetes mellitus, problemas cardiovasculares e respiratórios, redução da imunidade, osteoartrite, tendência para problemas urinários e de pele, entre outras, são algumas das doenças associadas ao excesso de peso ou obesidade”, esclarece Joana Pereira
“Por isso é que se torna tão importante implementar hábitos saudáveis desde tenra idade: dar um alimento adequado ao animal (tendo em conta a espécie, raça, fase da vida, sensibilidades e estilo de vida)”
Como deve ser a alimentação saudável de um cão com excesso de peso?
Há certas características que a médica veterinária aponta para uma dieta terapêutica a que se deve recorrer para promover uma perda de peso eficaz, segura e saudável:
- Baixa em calorias - o que geralmente se consegue através da restrição de gordura;
- Teor proteico mais elevado - que permita a manutenção da massa muscular (“massa magra”, uma vez que o objetivo é que o animal perca peso em gordura);
- Promover a saciedade entre refeições - o que se consegue através da incorporação da mistura ideal de fibras, que varia entre cães de porte pequeno e grande (por exemplo);
- Dietas restritas em termos calóricos mas muito concentradas em certos micronutrientes (vitaminas, ácidos gordos essenciais e sais minerais) - para garantir que o animal não sofre de quaisquer carências nutricionais durante o processo de perda de peso;
- Alimentos, geralmente, suplementados com condroprotetores e EPA + DHA - para ajudar na parte osteoarticular.
Joana Pereira deixa um alerta especial para os cães diabéticos, cujas dietas “devem ter geralmente um baixo teor de hidratos de carbono e fazer uso de fontes de carboidratos com um baixo índice glicémico, além de incorporarem fibras que promovam a glucomodelação, por exemplo. Estas dietas tendem a melhorar a sensibilidade dos animais à terapêutica com insulina, promovendo um controlo clínico mais rápido e eficiente”, explica.
“O que os tutores normalmente começam a notar passadas poucas semanas do início do Programa de Perda e Controlo do Peso é uma maior vitalidade e ‘alegria de viver’ por parte dos seus animais, que de repente voltam a querer brincar e parecem ter maior mobilidade – o que reflete uma melhoria na sua qualidade de vida”
Como manter o peso saudável?
“Antes de mais, devemos saber que a melhor forma de descobrir o peso mais saudável para o nosso cão é ir ao médico veterinário: vai depender da raça, género, idade, se está esterilizado ou não, entre vários outros fatores”, começa por explicar Joana Pereira, da Royal Canin.
Dicas para ajudar o cão a perder peso e a manter um peso saudável
- Escolher um alimento adequado, completo e equilibrado em termos nutricionais e calóricos para a espécie, fase de vida, raça, estilo de vida, estatuto reprodutivo e sensibilidades;
- Estabelecer um estilo de vida mais ativo, com um plano de exercícios adaptado a cada caso, consoante as possibilidades ou limitações do cão e da família em que se insere;
- Adotar comportamentos alimentares corretos, nomeadamente no controlo das porções diárias de alimento (respeitar doses diárias recomendadas na embalagem ou prescritas pelo médico veterinário);
- Dividir a dose diária em, pelo menos, duas refeições, em vez de uma refeição grande (em processos de perda de peso pode ser aconselhado repartir em ainda mais refeições, pois isso fomenta a sensação de saciedade).
- Implementar uma rotina alimentar com horários definidos para as refeições, dando o alimento sempre na mesma tigela e no mesmo lugar, que deve ser tranquilo, assim como água limpa e fresca sempre à disposição;
- Ter uma política de recompensas e extras regrada, saudável e que faça sentido para cada família (nunca acima dos 10% do aporte calórico diário, mesmo para cães saudáveis, evitando snacks e biscoitos demasiado calóricos). Alternativas: recompensas com croquetes da dose diária de alimento seco ou alimento húmido correspondente à dieta (na proporção indicada nas embalagens) ou pedaços de fruta ou de legumes previamente recomendados;
- Controlar o peso e ICC junto do médico veterinário e da equipa veterinária assistente com regularidade.
Quer recompensar o seu cão?
É preferível optar por pedaços de fruta ou vegetais (como maçã, cenoura, curgete) ou biscoitos baixos em calorias. Melhor ainda: “Recompensar o animal com brincadeiras, festinhas, uma sessão de escovagem do pelo ou até um belo passeio” – reforços positivos que a médica veterinária afirma serem muito apreciados pelos cães e que ajudam, além do mais, a reforçar a relação do animal com os tutores.
Esteja atento ao animal e faça controlos regulares com o médico veterinário, que vai pesar regularmente o seu cão, registando o peso e condição corporal, bem como avaliando exames gerais à saúde para, assim, detetar precocemente qualquer alteração e implementar medidas para o corrigir de forma preventiva. Desta forma, “é possível ter uma visão mais clara do ganho ou perda de peso durante a vida do animal”, reforça Joana Pereira, médica veterinária da Royal Canin.