Irá o Irão, finalmente, retaliar contra Israel?
A guerra cibernética de Israel estende-se para além das instalações nucleares iranianas, sendo que, normalmente, Israel acaba por nem confirmar, nem negar tais ataques.
Na segunda-feira, 1 de abril, caças F-35 da Força Aérea israelita cruzaram o céu sobre os Montes Golã e com seis mísseis teleguiados atingiram o edifício do consulado iraniano em Damasco. O ataque resultou no assassinato de vários altos comandantes da Força Quds da Guarda Revolucionária Islâmica (GRI) do Irão.
Este não é o primeiro ataque israelita contra alvos iranianos, uma vez que, nos últimos anos, as instalações nucleares no Irão têm sido objeto de vários ciberataques e de ataques com drones por parte de Telavive. A guerra cibernética de Israel estende-se para além das instalações nucleares iranianas, sendo que, normalmente, Israel acaba por nem confirmar, nem negar tais ataques.
No final de fevereiro, explosões nos gasodutos do Irão constituíram uma séria ameaça à segurança energética do país. O Ministro do Petróleo, Javad Oji, associou os incidentes a atos de terrorismo por parte de Israel, embora mais tarde tenha sido revelado que as explosões foram o resultado de um ciberataque.
O recente ataque de Israel suscitou várias reações do regime iraniano. Alguns apelaram à condenação e a um maior isolamento ao nível mundial do país, defendendo manifestações populares contra Israel, especialmente durante o dia de al Quds (em árabe "A Santa", ou seja, Jerusalém). Outros apelaram a ataques diretos de retaliação nos territórios ocupados ou a ataques contra embaixadas de Israel. Há também quem sugira a contenção como solução, tal como sucedeu no no passado.
É possível interrogarmo-nos sobre as razões que se encontram subjacentes ao ataque israelita contra o Irão. Em 1967, Israel conseguiu derrotar sete países árabes em apenas seis dias, tendo ocupado partes dos seus territórios. Contudo, passados seis meses desde o ataque de 7 de outubro, Israel não conseguiu atingir os seus objetivos em Gaza, apesar da supremacia militar e de inteligência, expressa na utilização intensiva de satélites e aviões espiões. Os principais objetivos eram a libertação dos reféns e a eliminação da elite dirigente do Hamas em Gaza, portanto longe de ser bem-sucedida.
O apoio do Irão à resistência palestiniana é crucial, uma vez que sem ele esta não teria o poder que detém atualmente. Após os acontecimentos de 7 de outubro, o Irão e os seus representantes xiitas foram os primeiros a apoiar o Hamas e a condenar as ações de Israel na guerra.
Assim, os ataques de Israel contra o Irão, podem ser encarados como uma retaliação pelo seu apoio a grupos armados muçulmanos perto das fronteiras israelitas. Começaram com os assassinatos seletivos de Qasem Soleimani e Mohsen Fakhrizadeh (um cientista nuclear iraniano) e agravaram-se com um ataque ao consulado na Síria. Em resposta a estes assassinatos, o aiatola Khamenei reagiu com o aumento do enriquecimento de urânio, lançando ataques com mísseis contra duas bases militares norte-americanas no Iraque e concedeu mais apoio a grupos do Eixo de Resistência na região do Médio Oriente.
Esta escalada conduziu à militarização de Gaza e da Cisjordânia, à transformação do Iémen numa ameaça naval no Mar Vermelho, para além da transformação dos grupos de resistência iraquianos em atores transnacionais e regionais influentes. O clímax destes acontecimentos pode ser encontrado na "Operação Tempestade Al-Aqsa", que constituiu uma falha significativa dos serviços de informações e das estruturas militares israelitas. Surgiu uma nova potência marítima no estreito de Bab al-Mandab, desafiando a segurança da navegação internacional na região.
A resistência iraquiana também provou a sua audácia ao desafiar as bases militares norte-americanas na região, enquanto o Hizbollah libanês providenciou o seu apoio total à resistência palestiniana. As novas dinâmicas regionais sugerem que o Eixo de Resistência é agora o principal ator no conflito em curso, sendo esse o motivo pelo qual Israel tenciona confrontá-lo, entrando em conflito direto com o seu líder e gestor, sediado em Teerão.
Face aos sucessivos ataques de Israel, porquê que o Irão demora tanto tempo a responder e quão dura será a sua retaliação? Dada a situação económica fragilizada do Irão e as sanções das quais é alvo, envolver-se num conflito em grande escala com Israel ou qualquer outro Estado não é do interesse da República Islâmica. Apesar das críticas contra o governo de Ebrahim Raisi pela sua resposta tímida, parece que a liderança da República Islâmica está a dar prioridade a uma política de paciência estratégica, em detrimento da procura de uma vingança imediata. A principal razão para este comportamento é que, apesar de o Irão possuir um forte arsenal de mísseis capaz de infligir danos significativos a qualquer país, também tem bases críticas no setor da energia que são altamente vulneráveis a ataques aéreos, tais como os dos F-35 israelitas ou dos chamados mísseis Jericho. O aiatola Khamenei está relutante em contribuir para o aumento da tensão e escalar do conflito numa guerra regional, que poderia levar à destruição das infraestruturas energéticas do Irão, particularmente os campos de petróleo e gás de "South Pars" no Golfo Pérsico.
No entanto, isto não significa que o Irão se irá abster de uma retaliação. Teerão considera o "ataque ao consulado" por parte de Israel como um ataque direto à sua soberania, tendo a decisão sobre a dimensão da resposta a Israel sido tomada no "Conselho Supremo de Segurança Nacional" apenas um dia após o incidente.
De acordo com as informações mais recentes, o Irão prepara-se para lançar em breve um ataque de mísseis com munições hipersónicas contra Israel, que envolverá também ataques com rockets e drones por parte de grupos armados xiitas com o objetivo de desativar os sistemas de defesa aérea israelita e a Cúpula de Ferro. É importante notar que o Irão concebeu planos de reserva em caso de retaliação israelita e identificou alvos adicionais para potenciais ataques subsequentes a Israel. O mundo está, assim, a acompanhar de perto a possibilidade de os GRI do aiatola Khamenei autorizarem o lançamento de mísseis e mergulharem a região no caos.
Irá o Irão, finalmente, retaliar contra Israel?
A guerra cibernética de Israel estende-se para além das instalações nucleares iranianas, sendo que, normalmente, Israel acaba por nem confirmar, nem negar tais ataques.
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