REN premeia plataforma de auxílio a migrantes e refugiados
Organização de Leiria venceu o Prémio AGIR da REN. Outros dois projetos foram distinguidos na iniciativa, este ano dedicada à “Inovação Social na resposta à Covid-19”
A oitava edição do Prémio AGIR da REN – Redes Energéticas Nacionais, este ano dedicado à "Inovação Social na resposta à Covid-19", teve como vencedor o projeto "SPEAK", da organização Share Your World, de Leiria. Lançada em 2014, esta plataforma ajuda a resolver o problema da exclusão social de migrantes e refugiados através da aprendizagem de uma língua e da criação de uma rede informal de apoio social.
Um projeto de sucesso, diferente e que se distingue pela "componente humana", como explica Hugo Menino Aguiar, CEO e cofundador do "SPEAK". Este é um projeto liderado pela própria comunidade, de pessoas para pessoas. A nossa equipa trabalha de forma quase ‘invisível’ sempre com o objetivo de empoderar os membros da comunidade para que sejam eles os agentes de mudança – de certa forma temos 48 mil pessoas a usar o ‘SPEAK’ para criar impacto. Por outro lado, o facto de se usar a tecnologia para escalar impacto, permite que a gestão das operações dos grupos de línguas se torne muito eficiente e facilmente escalável."
Até março de 2020, os grupos de línguas eram presenciais, o que facilitava a criação de laços entre os buddies – as pessoas que ajudam outros a aprender uma língua – e os participantes. Com o início da pandemia, o projeto passou a ser digital. Numa primeira fase, o acesso às sessões e a eventos da comunidade era através de um site. Porém, em 2021 foi criada uma aplicação para telemóvel que permitiu democratizar o acesso ao "SPEAK", alcançando muito mais pessoas (as supracitadas 48 mil) e contribuindo para que o projeto social esteja hoje presente em 24 cidades de 12 países.
Com o Prémio AGIR, a Share Your World vai poder desenvolver uma segunda versão da aplicação com mais funcionalidades, mais eficaz e eficiente, mais intuitiva e de fácil utilização para os seus utilizadores. "Ao juntarmos locais, migrantes e refugiados na app ‘SPEAK’, garantimos que estão rodeados de suporte, amizade e relações sociais de apoio mútuo e evitamos as graves consequências sociais, económicas e políticas desta pandemia", explica Hugo Menino Aguiar.
Projeto de Guimarães distinguido
Em segundo lugar do Prémio AGIR da REN ficou a iniciativa "CoAction Against Covid-19", da associação ProChild, que promove, através de um rastreio online, o bem-estar e a saúde mental das crianças e famílias, avaliando, em simultâneo, o impacto da pandemia. Tendo como alvo a comunidade escolar, entre os 3 e os 10 anos, do concelho de Guimarães (perto de 6.000 crianças), o projeto começou a ser pensado e delineado em março de 2020, estava Portugal no primeiro confinamento geral.
A primeira edição começou a ser implementada em fevereiro de 2021 e decorreu até julho do mesmo ano. Durante esta edição inicial "foram rastreadas 1.098 crianças, sendo que 220 pontuaram positivamente no rastreio, demonstrando sinais indicativos de problemas de saúde mental". E, após verificação dos critérios de elegibilidade, "79 usufruíram de intervenção psicológica especializada, gratuita e individualizada, com uma elevada taxa de sucesso, o que nos permite afirmar que conseguimos ajudar um grande número de crianças e famílias durante a primeira edição", conta Marlene Sousa, PhD | Eixo Saúde e Bem-Estar e responsável do "CoAction Against Covid-19".
Neste momento, está a decorrer a segunda edição. Por isso, "é ainda prematuro tirar conclusões dos dados recolhidos até ao momento". Após a conclusão da segunda edição, os responsáveis vão proceder à análise estatística dos dados e então estarão em condições de apresentar resultados e conclusões rigorosas acerca do impacto da pandemia na saúde mental da população-alvo do projeto. Não obstante, o nosso projeto demonstra já a grande necessidade e importância de existirem respostas comunitárias que ajudem crianças e famílias, sobretudo as que estão em situações de maior vulnerabilidade social, com escassos recursos financeiros e pouco acesso a suporte social", alerta Marlene Sousa.
Note-se que estudos empíricos realizados, a nível nacional e internacional, apontam para "o preocupante aumento de perturbações mentais em crianças e adolescentes, tais como depressão, ansiedade e stress pós-traumático, durante o período pandémico". Por isso, a associação ProChild está à espera que os resultados do seu projeto "corroborem este cenário, que deve preocupar a todos/as enquanto agentes ativos/as de uma sociedade que se quer promotora do bem-estar e direitos das crianças".
A ProChild e os seus parceiros sentiram "orgulho e honra" quando receberam o Prémio AGIR 2021 da REN. Até porque este é fundamental para que possam disponibilizar, por mais um ano letivo, "uma resposta comunitária pioneira em Portugal que previne e mitiga os problemas de saúde mental infantil originados ou exacerbados pela pandemia Covid-19, contribuindo para o bem-estar e resiliência de crianças e respetivas famílias a curto e a longo prazo".
Aveiro igualmente no pódio
A terceira premiada do Prémio AGIR da REN foi a "Equipa de Socorro" da Escola Profissional de Aveiro (EPA). O projeto integra alunos, a maioria proveniente de um meio socioeconómico desfavorecido e que vive no limiar da pobreza e da exclusão social, numa equipa de socorro, capaz de prestar os primeiros socorros em caso de acidentes ou incêndios, realizar rastreios de saúde e apoiar os colegas com as suas dificuldades pessoais, num universo que ultrapassa as 800 pessoas. A ligação com as autoridades de socorro locais já evitou diversas deslocações desnecessárias à EPA, demonstrando a eficácia da atuação destes alunos.
Paulo Quina, coordenador técnico e pedagógico da EPA, faz um balanço "muito positivo" deste projeto que tem 11 anos de trabalho no terreno. "Ser tolerante, aceitar a diferença, ser solidário, são os valores máximos da ‘Equipa de Socorro’ aprendidos e apreendidos sempre que há uma causa social realizada em prol do outro", afirma e continua: "Também nos tornamos parte dessa ação. Apenas juntos e apoiando aqueles que mais necessitam em situações de adversidade é que vencemos os obstáculos sem medos. É assim que a equipa funciona, o sentimento de ajuda a alguém que precisa é simplesmente fantástico, sem nunca esperar algo em troca. Aprendem a dar valor à palavra ‘cuidado’."
Em relação ao Prémio AGIR da REN, Paulo Quina diz que a "Equipa de Socorro" vai ficar "mais qualificada para intervir de forma diferenciada e poderá alargar o seu âmbito de atuação, por exemplo, para pessoas vítimas de pobreza e de exclusão social devidamente sinalizadas por instituições de cariz social parceiras da EPA".
Prémio AGIR da REN: ao serviço da intervenção social
O Prémio AGIR enquadra-se na política de envolvimento com a Comunidade e Inovação Social da REN. Anualmente, o Prémio seleciona uma área de intervenção social diferente e distingue três projetos. A seleção dos três melhores projetos é da responsabilidade da REN, em parceria com a Stone Soup, que acompanha e monitoriza a utilização dos fundos doados a cada projeto, efetuando também a avaliação do impacto social real do apoio atribuído. Este ano, na oitava edição, o tema foi a "Inovação Social na resposta à Covid-19".
Registe-se que o valor atribuído a quem vence o Prémio AGIR da REN é de 30 mil euros. O segundo classificado ganha 15 mil euros e o terceiro 5 mil euros.