Tudo começou em Palmela, em 1920. Uma mulher chamada Leonilde ousou plantar
um sonho. Desde então, geração após geração, foram sempre as mulheres da
família Freitas a manter vivo o mesmo propósito: transformar a terra em vinho e
o vinho em legado.
À frente da empresa está Leonor Freitas, quarta geração da família e uma
das figuras mais marcantes do setor vitivinícola nacional. Filha de Dona
Ermelinda — cujo nome se eternizou na marca —, Leonor nunca imaginara que o seu
destino seria conduzir a exploração familiar. A sua entrada no mundo rural foi
inesperada, mas profundamente enraizada no afeto. “Esta casa teve sempre
mulheres na gestão. E porquê? Porque os homens da família faleceram muito cedo
e houve mulheres muito fortes, como a minha avó Germana, que, com 38 anos,
ficou viúva e manteve viva a atividade agrícola da família com enorme
determinação.”
Apesar de ter sido orientada para uma vida fora do campo, Leonor regressou
por amor — à terra, à família e ao legado. “A família queria que eu tivesse uma
vida melhor, porque a vida rural sempre foi difícil. Mas a verdade é que voltei
por amor. Nessa altura não tínhamos marca e vendíamos a granel para outras
adegas”, recorda. Foi precisamente esse seu regresso que marcou o início de uma
nova era. A aposta passou pela plantação de novas castas, pela modernização das
infraestruturas e pela criação de uma identidade própria. "Hoje temos 31 castas, 560 hectares de vinha e um centro de
vinificação moderno. Tudo isto é extremamente gratificante, porque cheguei sem
saber, apenas com a vontade de dar continuidade ao que a família me tinha
deixado. E foi assim que começou verdadeiramente a nossa marca, a Dona
Ermelinda”, conta Leonor Freitas.
A quinta geração: visão e estratégia
Joana Freitas, filha de Leonor, representa a quinta geração da Casa
Ermelinda Freitas. Cresceu com o exemplo de uma mãe forte e presente, o que lhe
trouxe não só orgulho, mas também um enorme desafio. “Ter uma professora
exemplar como a minha mãe traz um desafio gigante para continuar e fazer ainda
melhor a todos os níveis. Mas é um desafio que encaro com muita força”, refere.
Atualmente, a aposta está na diversificação e na atenção ao consumidor, com
uma estratégia pensada passo a passo. “A nossa principal força para o futuro
reside na capacidade de estarmos permanentemente atentos — aos mercados, às
tendências e às preferências dos consumidores. Foi com esse espírito que
decidimos diversificar os perfis de vinho, adquirindo a Quinta do Minho, em
Braga, dedicada à produção de vinhos verdes, um projeto que tem tido resultados
muito positivos. Paralelamente, apostámos na região do Douro com a Quinta de
Canivães, cujos vinhos estão ainda numa fase inicial de desenvolvimento. São,
por assim dizer, os nossos vinhos mais jovens, e representam um desafio
estimulante, com grande potencial de crescimento.”
O terroir e a qualidade reconhecida
A consistência e a qualidade são pilares que têm merecido reconhecimento
internacional. O enólogo da casa, Jaime Quendera, destaca os fatores
diferenciadores que tornam os vinhos Ermelinda únicos. “Além de termos
conquistado mais de 2.500 prémios nacionais e internacionais nos últimos anos,
o que é impressionante e revela qualidade, temos um terroir muito
particular”, observa. Com efeito, apesar do clima quente, a proximidade do mar
garante equilíbrio e frescura às vinhas. “Estamos a 10 a 20 quilómetros do mar
e isso é importante, porque no verão, nos dias muito quentes, temos a brisa
marítima que refresca as vinhas. Temos sol, mas também frescura. Os vinhos são
maduros e frescos. Essa é a distinção número um dos vinhos de Setúbal e da
Ermelinda Freitas”, sublinha Jaime Quendera.
A atual diversidade de castas e regiões permite, segundo o enólogo, uma
abordagem criativa e versátil à produção. “É quase como ser chef de
cozinha: posso combinar diferentes elementos, experimentar, criar vinhos únicos
e distintivos. Exportamos atualmente para mais de 50 países e, com as novas
apostas, temos reforçado essa presença internacional. O vinho verde, por ser um
produto exclusivo de Portugal, abre muitas portas nos mercados externos,
enquanto o Douro acrescenta história, tradição e prestígio à nossa gama.
Felizmente, os resultados têm sido muito positivos.”
Enoturismo: partilhar o legado
Hoje, a Casa Ermelinda Freitas é também um destino de enoturismo. As
visitas às vinhas, as provas comentadas e o contacto direto com a cultura local
tornam-se experiências imersivas para milhares de visitantes todos os anos.
Mais do que abrir portas, trata-se de partilhar a essência de um projeto
construído com paixão. A Casa Ermelinda Freitas é mais do que vinho, é herança,
é paixão e é futuro. Um legado que continua a crescer, para que nunca fique uma
cepa por vindimar, nem uma memória por contar.
De Palmela para o mundo, da coragem de Leonilde ao olhar atento de Joana,
passando pela determinação de Leonor, a história continua a escrever-se. Sempre
com um copo erguido à tradição e ao futuro.
Vinhos com alma e homenagem
Cada vinho conta uma história. Um dos mais emblemáticos é o Destemido, criado em homenagem ao pai de Leonor, cuja coragem e espírito aventureiro continuam a inspirar. “O meu pai não tinha carro e pegou numa bicicleta para conhecer Portugal, foi até ao norte. Foi um destemido durante toda a sua vida. Tinha de lhe fazer esta homenagem”, destaca.
Perfil
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Nome: Casa Ermelinda Freitas
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Localização: Fernando Pó, Palmela, Portugal
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Fundação: 1920
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Liderança atual: Leonor Freitas
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Área de vinha: 550 hectares
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Castas: 31
Produção e Reconhecimento
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Região: Península de Setúbal
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Características dos vinhos: Elegantes e suaves,
influenciados pela brisa dos rios e verões secos
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Distinções: +2.500 prémios nacionais e
internacionais
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Exportação: +50 países
Enoturismo
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Visitas guiadas às vinhas
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Degustações de vinhos premiados
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Conhecimento dos processos de produção
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Envolvimento com a cultura da região
Expansão e Investimentos
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Modernização de infraestruturas
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Aposta nos vinhos verdes (Braga) e no Douro
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Forte presença no mercado nacional e
internacional
Contactos:
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Email: geral@ermelindafreitas.pt
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Telefone: +351 265 988 000 / +351 300 500 435
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Enoturismo: +351 915 290 729
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Morada: Rua Manuel João de Freitas, Fernando Pó,
2965-595 Águas de Moura
Um centenário diferente
Temos múltiplos exemplos de empresas familiares que, a partir de um patriarca, foram crescendo, diversificando e assegurando que sucessivas gerações assumissem o comando.
A Casa Ermelinda Freitas é um modelo de empreendedorismo e sucessão no feminino, sendo também a demonstração de como as empresas familiares respondem aos desafios. A afirmação “investi o que tinha e o que não tinha” é lapidar. Muitas empresas familiares afirmam-se assim e, no caso concreto, alcançando a longevidade de cinco gerações. Numa evidente harmonia entre família e empresa.
Luís Parreirão, advogado e gestor, que ao longo de mais de duas décadas tem refletido sobre os principais desafios das famílias empresárias