A velocidade
das mudanças tecnológicas, a urgência da sustentabilidade e a volatilidade dos
mercados estão a reconfigurar o que significa ser líder. Nas palavras de Joana
Santos Silva, CEO do ISEG, “o maior desafio será antecipar competências para um
mundo em aceleração exponencial”.
A exigência
é clara e os programas que preparem gestores para lidar com inteligência
artificial generativa, transformação digital e tensões globais ganham
relevância. Não basta acumular conhecimentos, é preciso cultivar pensamento
crítico, resiliência e capacidade de decisão em ambientes de incerteza.
Para Marta
Ferreira, coordenadora executiva da Portucalense Business School, a
imprevisibilidade é a regra, não a exceção. “O mercado está em constante
transformação, fruto da rápida evolução tecnológica tornando as empresas cada
vez mais competitivas”, afirma esta responsável. Neste quadro, a formação
executiva deixa de ser opcional e passa a ser estratégica, um fator
diferenciador para profissionais e organizações.
O desafio,
contudo, não está apenas nos conteúdos. As escolas enfrentam a necessidade de
oferecer programas flexíveis, ajustados a agendas sobrecarregadas, sem
comprometer a profundidade. Marta Ferreira sublinha que é crucial “desenhar
programas que facilitem a coordenação da vida pessoal com a vida profissional”,
respondendo de forma rápida aos objetivos definidos.
Outro aspeto
decisivo prende-se com a aplicabilidade imediata. A formação não pode ficar
confinada à sala de aula, ou seja, deve traduzir-se em impacto direto no
desempenho das equipas. É neste ponto que a ligação estreita entre academia e
empresas ganha peso, permitindo desenvolver soluções customizadas e medir
resultados de forma tangível.
Personalização
e humanismo
A procura
por percursos formativos personalizados será uma das tendências dominantes.
José Crespo de Carvalho, presidente do Iscte Executive Education, alerta que os
executivos não dispõem de tempo para cursos extensos, pelo que “programas que
respondam de forma rápida e direta às necessidades do momento vão ser cada vez
mais procurados”. No entanto, essa rapidez não pode sacrificar a visão de longo
prazo.
Outro fator
crítico será a capacidade de equilibrar tecnologia e humanismo. José Crespo de
Carvalho defende que, apesar da inevitabilidade da inteligência artificial, a
formação deve manter um “pendor humano e próximo”, capaz de estimular o
crescimento pessoal e não apenas a eficiência técnica.
A dimensão
internacional também terá de crescer. Num mercado globalizado, a formação
executiva exige parcerias internacionais e um olhar atento às tendências
globais, sem perder a ligação ao contexto económico português.
Liderar
em tempos de transição
Óscar
Afonso, diretor da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, acrescenta
novos elementos ao quadro, como sejam a pressão demográfica, a retenção de
talento e a necessidade de aprendizagem ao longo da vida. Para o responsável,
só uma oferta que combine rigor académico, atualização constante e ligação à
prática empresarial permitirá preparar executivos para um mundo em mutação
acelerada.
A
antecipação de impactos da desglobalização, a redução de fundos europeus a
partir de 2027 e a mobilização de recursos internos são apenas alguns exemplos
dos desafios que exigem líderes mais bem preparados.
Por tudo
isto, a formação executiva em Portugal tem pela frente uma encruzilhada que
inclui responder à urgência tecnológica sem perder de vista o fator humano,
alinhar-se com tendências globais sem descurar as especificidades locais e
garantir flexibilidade sem comprometer profundidade. Mais do que nunca, formar
executivos é formar estrategos capazes de ler o presente e antecipar o futuro.