Informática e shared services são áreas apelativas
Mercado português está com uma oferta elevada nestes domínios
Joana Bacelar, manager na Michael Page Porto, aponta as melhores saídas profissionais do mercado, explica como está a ser e será o mundo do trabalho pós-pandemia e deixa ainda algumas dicas preciosas aos estudantes.
Que cursos aconselharia aos estudantes que vão frequentar o ensino superior no próximo ano letivo?
Se pensarmos que a escolha do curso pode definir aquilo que teremos de fazer nos próximos 40 anos da nossa vida, devemos pautar a nossa escolha por algo que nos realize e nos deixe feliz. Nada será pior do que sermos profissionalmente infelizes o resto da vida e acredito mesmo que alguém infeliz tendencialmente não será também bem-sucedido.
Se olharmos para a questão pelo prisma das saídas profissionais, existem naturalmente áreas que deverão ser atentadas, nomeadamente áreas de gestão e economia (pela abrangência e multiplicidades de áreas e saídas profissionais), a área da engenharia informática, bem como engenharia mecânica e gestão industrial.
Quais são as áreas com mais empregabilidade atualmente no mercado de trabalho?
Neste quadrante, destacaria duas: a área de informática (software e hardware), assim como a área de shared services. Estas são áreas nas quais o mercado português se tornou apelativo para a radicação de novas empresas (essencialmente multinacionais), pelo que temos registado uma inversão da lei do mercado (oferta vs. procura).
Na sua opinião, um estudante, após terminar a licenciatura, deve prosseguir a sua formação e fazer um mestrado ou uma pós-graduação?
Num mercado cada vez mais competitivo, no qual a generalidade dos cursos está já num formato pós-Bolonha, naturalmente a licenciatura perdeu força. Desta forma, torna-se incompleto e pouco competitivo para alguém ficar apenas com a licenciatura. Assim, deve haver uma aposta na formação contínua e seguir assim a licenciatura com um mestrado, pós-graduação ou similar.
Em contrapartida, creio ser contraproducente acabar a formação base e enveredar por um MBA ou curso similar. Estes cursos fazem sentido, mas após haver uma experiência profissional a servir como base.
Portugal possui licenciados em número suficiente para responder à necessidade do tecido empresarial português?
Depende naturalmente das áreas de negócio e zonas geográficas. Existem áreas em que claramente temos uma inversão da lei da oferta e da procura e por isso temos poucos candidatos para as demandas dos clientes, obrigando-nos assim a "importar" alguns recursos de outros pontos do globo.
De que forma o mercado de trabalho mudou com a pandemia?
Essencialmente, mudou a metodologia de trabalho e foram antecipados paradigmas que há muito vinham sendo discutidos, como a questão do teletrabalho e da flexibilidade laboral. Se antes era algo que acontecia, mas de forma lenta e gradual, hoje esta tendência mudou. As empresas foram obrigadas, de forma instantânea, a adaptarem-se e a criarem ferramentas. Por sua vez, os colaboradores criaram mecanismos de adaptação a uma realidade que tem claras vantagens, mas que pode ser, em alguns casos, angustiante e exaustiva.
Neste ponto, e mesmo com a passagem do período crítico da pandemia, nunca mais registaremos o modelo tradicional que tínhamos. A generalidade das empresas confiou e a verdade é que os resultados se mantiveram inalterados. Por isso, o teletrabalho integral ou parcial veio para ficar. Com isto há, naturalmente, outros desafios que se levantam e que vão obrigar as equipas de RH a redobrar esforços para conseguirem manter viva (mesmo que há distância) a base cultural da empresa e manter os laços sociais tão importantes para o bom funcionamento interdepartamental.