"A maior prioridade neste momento é travar o crescimento das emissões que estão na origem do aquecimento global e dos recordes de temperatura que estamos sistematicamente a bater." Quem o diz é Alexandra Azevedo, presidente da Quercus. "Isto envolve um grande número de ações que não estão a ser tomadas. Estamos, pelo contrário, a aumentar as nossas emissões, com graves consequências para o equilíbrio dos ecossistemas e pondo em risco a vida humana e das outras espécies."
A menos de um mês das eleições europeias, e sabendo que qualquer esforço para atingir estes objetivos tem de ser conjunto, podem os planos e metas ambientais estar em risco? "Efetivamente podem e, nestes últimos meses, com o receio de perda de votos, já houve da parte de vários parlamentares, e alguns Estados-membros, posições que constituíram um retrocesso em relação ao previsto no quadro do Pacto Ecológico Europeu. O mais notório, mas ainda com uma pequena margem de aprovação em junho, é a Lei de Restauro da Natureza", alerta Francisco Ferreira, presidente da ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável. "Um próximo Parlamento Europeu, dependendo dos partidos que o formarem, pode limitar a implementação nalgumas áreas do Pacto Ecológico Europeu, mas acima de tudo, não dar voz para o que as organizações não governamentais de toda a Europa têm vindo a apelar: um Pacto Europeu para o Futuro", diz Francisco Ferreira.
Assinado em 2019, o Pacto Ecológico Europeu, foi, de acordo com o presidente da ZERO, um ponto de partida, que catalisou parte da mudança de sistema necessária e fortaleceu a credibilidade internacional da União Europeia, provando ser uma ferramenta para a competitividade da UE a nível mundial. "Se a UE recuasse agora, apenas aumentaria o risco de ser ultrapassada por outros e diminuiria a sua influência global, deixando o caminho livre para a indústria de outros países capturar os mercados crescentes de tecnologias verdes." Não é tempo para recuar.
Pacto Europeu para o Futuro
Francisco Ferreira, presidente da ZERO, fala de um Pacto Europeu de Futuro, pedido por várias ONG de vários Estados-membros. Mas, afinal, em que consiste esta ideia? Segundo Francisco Ferreira, um Pacto Europeu para o Futuro englobaria:
Abraçar a visão de viver bem dentro dos limites planetários
- Fazer com que o Pacto Europeu para o Futuro oriente o próximo ciclo legislativo de cinco anos.
Traçar uma transformação ecológica
- Abordar a tripla crise planetária ligada ao clima, à biodiversidade e à poluição.
- Reduzir a utilização de recursos e aproveitar as oportunidades da economia circular; mudar para uma economia de bem-estar.
Avançar rumo a uma economia de um só planeta
- Apoiar os setores para se tornarem resilientes e competitivos em sustentabilidade.
- Impulsionar a mudança através de investimentos, tributação e distribuição justas.
- Fazer da escolha segura e sustentável a escolha mais fácil para pessoas e empresas.
Promover uma transição justa
- Desenvolver um novo contrato social para não deixar ninguém para trás.
- Fortalecer a democracia ambiental e dar voz aos jovens e a outras pessoas esquecidas.
Mostrar solidariedade e assumir responsabilidades
- Apoiar e manifestar solidariedade numa UE em alargamento.
- Comprometer-se com a justiça global e impulsionar parcerias para enfrentar desafios comuns.
Implementar os nossos compromissos
- Implementar e fazer cumprir a legislação da UE para proteger o Estado de direito e a nossa saúde.
- Reforçar a governação da UE e a confiança no projeto europeu.