O arquipélago dos Açores situa-se numa encruzilhada entre a Europa medieval e o globalizado mundo contemporâneo, sendo fruto da Época Moderna e da expansão transatlântica. Por isso mesmo, foi designado como Escala Universal, por onde passavam todas as embarcações intercontinentais, durante mais de cinco séculos.

Pelos Açores, navegaram piratas e corsários; desenvolveram-se guerras e conflitos comerciais; atravessaram embarcações de passageiros e grandes cargueiros; cruzaram-se rotas mercantis e impérios ultramarinos.

Como resultado dessa mundividência, é ali que encontramos a maior reserva de património cultural subaquático do País, e uma das maiores a nível mundial, com quase um milhar de registos de naufrágios, documentalmente identificados. A importância desse património foi já reconhecida, sendo agraciada com distinções pela UNESCO, em 2019, e pela Comissão Europeia, em 2020, tornando-se assim no primeiro conjunto arqueológico subaquático do mundo a receber a Marca do Património Europeu.

Esses tesouros submersos estão muitas vezes escondidos do olhar público, seja pela falta de acessibilidade aos mesmos, seja pela necessidade de os proteger, face ao seu valor e à sua fragilidade. Como tal, o Governo Regional dos Açores trabalha há muitos anos no sentido de inventariar sítios e criar roteiros de visitação, seguros e sustentáveis.

Através dos projetos Margullar e Margullar 2, cofinanciados pela União Europeia, os Açores conseguiram desenvolver uma estratégia de promoção e desenvolvimento desse património subaquático, enquanto ativo turístico e económico, sem descurar os critérios de salvaguarda necessários para a sua preservação.

Parte da visão posta em prática passou pela democratização do acesso ao conhecimento e aos locais submersos. Ponderando o facto de nem toda a gente ter, ou poder fazer, um curso de mergulho, a equipa do projeto Margullar 2 avançou, desde 2019, com a conceptualização de espaços em terra, para trazer o património até junto das suas comunidades.

Inspirando-se em exemplos já conhecidos, ao largo do mar Mediterrâneo, foram desenvolvidos núcleos expositivos, designados Centros de Conhecimento e Sensibilização do Património Cultural Subaquático. O objetivo é criar pontos de informação sobre os sítios de maior valor histórico-arqueológico, ilha a ilha, e destacar os que integram o roteiro visitável, contando com o apoio das novas tecnologias e da museologia tradicional.

Mas, indo mais longe, propõe-se o desafio de criar espaços que dinamizem as comunidades onde estão inseridos, servindo para desenvolver atividades ligadas ao mar, apoiar as pequenas e médias empresas marítimo-turísticas e integrar estratégias de valorização cultural dos municípios e órgãos de poder local.

Em cada ilha, foram selecionados pontos de interesse, pelo seu valor material e imaterial, pela sua proximidade ao mar, e pela sua acessibilidade ao maior número de visitantes. De momento, encontram-se três Centros de Conhecimento e Sensibilização abertos ao público, prevendo-se dar continuidade ao projeto nos anos que se seguem, e chegar às nove ilhas.

Na cidade da Horta, ilha do Faial, no designado Banco das Artes, encontra-se o circuito expositivo do centro, aguardando-se a sua transladação definitiva para o forte de São Sebastião, junto à baía de Porto Pim, após obras de reabilitação. No Pico, foi escolhido o local do antigo Mercado do Peixe da vila da Madalena, pela proximidade ao terminal marítimo, e pela herança coletiva que aquele espaço representa na comunidade. Em São Jorge, no edifício da Junta de Freguesia do lugar do Topo, foi incorporada a instalação do centro, com capacidade para itinerância até às infraestruturas do porto daquela localidade, durante a época propícia à realização de mergulho.

Para saber mais sobre estes espaços e outros projetos culturais, propõe-se uma visita pela página online da Direção Regional da Cultura, designada Cultura Açores, bem como pela página do projeto Margullar. A Direção Regional da Cultura convida a visitar os Açores e o seu património cultural.