A dentição humana pode apresentar variações de tamanho, forma, estrutura, número, cor e formação de estruturas dentárias. A dentição temporária inicia a sua formação in útero e a dentição permanente continua o seu desenvolvimento até à adolescência. O diagnóstico das alterações dentárias de desenvolvimento requer uma avaliação clínica e radiográfica.
Os defeitos de esmalte são comuns em crianças e adultos. Ocorrem durante a amelogénese (desenvolvimento do esmalte) enquanto o dente ainda está sob a gengiva antes de entrar em erupção na boca.
O estágio em que o desenvolvimento do esmalte é afetado e a idade em que a alteração ocorre determinarão o tipo de defeito e quais os dentes envolvidos.
Os defeitos do esmalte podem afetar os dentes temporários e permanentes e, na maioria dos casos, não são evitáveis.
O esmalte é a camada externa do dente e desempenha um papel importante no fornecimento de força durante a função.
As consequências
Entre várias consequências, os defeitos no esmalte podem reduzir a estrutura do dente para a sua função mastigatória, aumentar o risco de cárie dentária e causar preocupações estéticas.
Eles podem aumentar a necessidade de tratamento médico dentário desde tenra idade e ao longo da vida.
Um dos defeitos de esmalte mais comuns afetam os primeiros molares permanentes e os incisivos superiores. Designa-se por hipomineralização incisivo-molar. Clinicamente, as manchas podem variar de branco, amarelo, laranja a acastanhado.
O número de dentes afetados pode variar de 1-4 primeiros molares permanentes e a gravidade entre esses dentes também pode variar de leve, moderada a grave. Os incisivos podem ou não ser afetados. O esmalte afetado é de espessura normal, mas é mais fraco. A sensibilidade à temperatura e ao toque é comum. A fratura e a cárie dentária são muito comuns. A cárie dentária e as restaurações podem ter uma forma e tamanho pouco comuns. O tratamento do primeiro molar permanente que apresenta este tipo de lesões apresenta um dos grandes desafios para os pacientes e seus dentistas.
Outros defeitos
Outras formas de defeito no esmalte podem ser a fluorose dentária, hipoplasia do esmalte, amelogénese imperfeita e as opacidades de esmalte, tendo características clínicas, considerações e fatores etiológicos distintos.
Fluorose dentária
A fluorose dentária é um defeito do esmalte resultante de uma alta ingestão de flúor enquanto os dentes ainda estão em desenvolvimento. A gravidade da fluorose depende da dose, do momento e da duração da exposição excessiva ao flúor. Os casos mais leves apresentam-se como defeitos de mancha branca difusa e generalizada ou faixas estreitas horizontais em todo o esmalte. Os casos graves podem ser amarelos a castanho-escuro.
A fluorose é normalmente simétrica entre os mesmos dentes em ambos os lados da boca.
Hipoplasia do esmalte
A hipoplasia do esmalte é um defeito do esmalte que resulta num esmalte mais fino de força normal e propriedades físicas. Pode afetar vários dentes ou apenas um dente onde ocorreu um distúrbio localizado durante o seu desenvolvimento. Os distúrbios localizados incluem muitas vezes traumatismos dentários ou infeção no dente temporário.
Os incisivos permanentes estão em maior risco de hipoplasia relacionada ao traumatismo, enquanto os pré-molares permanentes estão em maior risco de hipoplasia relacionada à infeção devido ao aumento da incidência de cárie e infeção nos molares primários.
"A sensibilidade à temperatura é comum"
Amelogénese imperfeita
Amelogénese imperfeita é um grupo de alterações da estrutura do esmalte menos frequente e ligado à hereditariedade. As manifestações clínicas são variadas, mas podem afetar todos os dentes temporários e permanentes e variam na aparência clínica dependendo do timing que está afetado e da fase de desenvolvimento do esmalte.
Opacidades de esmalte
As opacidades de esmalte podem ser demarcadas ou difusas. As opacidades demarcadas têm um esmalte de espessura normal e com uma superfície intacta com uma alteração na translucidez do esmalte, de grau variável. Essa translucidez é demarcada a partir do esmalte adjacente normal com limites nítidos e claros, podendo apresentar uma coloração branca, bege, amarela ou acastanhada.
O comprometimento estético, aumento de suscetibilidade à cárie, fratura de esmalte pós-eruptiva e sensibilidade dentária são algumas das consequências destes defeitos de desenvolvimento do esmalte. É essencial um correto diagnóstico, de modo a estabelecer o tratamento adequado.
O diagnóstico precoce e o tratamento adequado das alterações de desenvolvimento que se vão instalando são essenciais para que se consiga uma harmonia oclusal, funcional e estética.
Mariana Seabra, médica dentista (OMD 04664)