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Enviar o artigo: Nem todo o kefir é kefir. E isso pode mudar tudo
Enviar o artigo: Nem todo o kefir é kefir. E isso pode mudar tudo
Nem todo o kefir é kefir. E isso pode mudar tudo
Em conversa com o médico Pedro Brogueira, especialista em doenças infeciosas, explorámos o papel do kefir e da microbiota na saúde digestiva. Porquê? Porque é urgente clarificar o que é, afinal, o verdadeiro kefir.
Num momento em que o bem-estar digestivo se tornou uma das
grandes tendências na alimentação saudável, produtos como o kefir ganham
destaque nas prateleiras dos supermercados e nas conversas sobre microbiota.
Mas será que todos os kefires que encontramos no mercado são realmente kefir?
Falámos com o médico Pedro Brogueira,
especialista em doenças infeciosas e membro da Sociedade Portuguesa
para a Inovação em Microbioma e Probióticos (SPIMP), para compreender o que
distingue o verdadeiro kefir, porque é que a saúde intestinal é muito
mais do que “trânsito regular” e de que forma é que este alimento pode ter um
impacto real no nosso bem-estar global.
À conversa com o médico especialista Pedro Brogueira
A crescente preocupação com a saúde intestinal veio
democratizar termos outrora restritos à comunidade científica, como
“microbiota”, “fermentos” ou “probióticos”. No entanto, esta popularidade
também trouxe alguma confusão. Entre iogurtes, bebidas fermentadas e versões
industrializadas de kefir, há produtos que prometem benefícios
semelhantes, mas cuja composição difere substancialmente.
Hoje, mais do que nunca, importa distinguir o marketing
da ciência. Essa distinção começa por compreender o que é, de facto, o kefir
autêntico e porque é que nem todos os produtos que o reivindicam o são
verdadeiramente.
Nos últimos anos, ouvimos falar muito sobre a microbiota
intestinal e o seu impacto na saúde. Afinal, o que é exatamente a microbiota e
porque é que tem um papel tão central no nosso bem-estar geral?
O termo microbiota diz respeito a uma comunidade de micro-organismos
num ambiente específico, frequentemente designado por “flora” comensal. Ao
considerarmos o papel dos micro-organismos, as interações entre as várias
espécies e a sua função, estamos a falar de microbioma. A microbiota não é
indissociável do organismo humano. As nossas células e tecidos evoluíram ao longo
do tempo em dependência do contributo de bactérias e outros micro-organismos que
vivem connosco em simbiose, os quais coevoluíram ao longo de milhões de anos, culminando
naquilo que hoje conhecemos como organismo humano. De modo a garantir essas
funções vitais, é fundamental que o sistema permaneça estável e equilibrado. O
desequilíbrio desta relação estreita dá pelo nome de disbiose e está na base de
inúmeras doenças metabólicas e inflamatórias, influenciando ainda de forma
impactante processos fisiológicos diversos como a perceção da dor, a regulação
do apetite, a fertilidade e a amamentação.
Costuma dizer-se que “somos o que comemos”. No caso da
microbiota, podemos dizer que “somos o que alimenta as nossas bactérias”?
Neste caso, não é possível reduzir a complexidade da nossa
relação com as bactérias a algo unidirecional ou assente apenas numa relação
mutualista, ainda que, naturalmente, seja recomendável a ingestão de bactérias
benéficas para o organismo, através do consumo de alimentos fermentados
probióticos, integrados numa alimentação saudável.
Fundamentalmente, o ser humano deve ser percecionado como um
holobionte, isto é, um ecossistema mutualístico composto pelos três domínios da
vida – Bactéria, Archaea e Eukarya. Dito de uma forma mais
simples e quantificável, uma fatia importante das células que constituem o
organismo humano tem origem microbiana. De um modo geral, os sistemas humanos
(digestivo, reprodutor, imunitário, etc.) dependem da interação com esta
diversidade de micro-organismos mutualistas para se considerarem biologicamente
e funcionalmente completos.
“Devemos preferir alimentos frescos, promover a variedade de vegetais, leguminosas e grãos integrais, valorizar fermentações naturais (ex.: kefir, kombucha, miso), privilegiando alimentos tão naturais quanto possível e evitando o excesso de gorduras e açúcar”Pedro Brogueira, especialista em doenças infeciosas e membro da Sociedade Portuguesa para a Inovação em Microbioma e Probióticos (SPIMP)
Que hábitos ou alimentos são essenciais para manter um
intestino saudável?
O microbioma intestinal é moldado desde o período
gestacional, influenciado pelo tipo de parto, tipo de alimentação (leite
materno ou fórmula para lactentes), diversificação alimentar, sendo sujeito a
fatores externos ao longo da vida como o ambiente, a dieta e a prática de
exercício físico. Deste ponto de vista,
devemos preferir alimentos frescos, promover a variedade de vegetais,
leguminosas e grãos integrais, valorizar fermentações naturais (ex.: kefir,
kombucha, miso), privilegiando alimentos tão naturais quanto possível e
evitando o excesso de gorduras e açúcar.
O kefir é frequentemente apontado como um dos
alimentos mais completos para o equilíbrio intestinal. Do ponto de vista
científico, o que distingue o verdadeiro kefir de outras bebidas
fermentadas, como o iogurte?
O kefir é originário das montanhas do Cáucaso, sendo
os seus grãos tradicionalmente transmitidos de geração em geração desde cerca
de 2000 a.C., considerado uma forma de riqueza familiar e protegido pelas
tribos. Sendo o leite o elemento comum, o que verdadeiramente distingue o kefir
é o facto de ser produzido a partir dos chamados “grãos de kefir”. Os
grãos de kefir constituem uma mistura complexa e específica de bactérias
e fungos que vivem em simbiose. Quando inoculados num meio de cultura como o
leite, ocorre um processo específico de fermentação em que são produzidos ácido
lático e diversos elementos funcionais como péptidos bioativos, polissacáridos,
antibióticos e bacteriocinas. É esta composição única do kefir que o distingue
verdadeiramente, conferindo-lhe um potencial probiótico específico. O termo
“probiótico” designa os micro-organismos que sobrevivem à passagem pelo trato
gastrointestinal e exercem funções benéficas no organismo. Portanto, a grande
quantidade de micro-organismos vivos benéficos, entre bactérias e leveduras
probióticas, é o que realmente distingue o kefir de um simples leite
fermentado ou iogurte, que comparativamente são alimentos de menor riqueza
probiótica ao não terem leveduras e serem fermentados com menos bactérias que
um kefir.
No mercado, encontramos vários produtos com o nome kefir,
mas que, segundo alguns especialistas, não correspondem à fermentação
tradicional. O que caracteriza o kefir autêntico? E porque é que a
presença de leveduras é tão importante?
De acordo com o Codex Alimentarius (Codex Stan 243-2003), um kefir
é um leite fermentado com os fermentos típicos dos grãos de kefir,
contendo, por isso, uma grande quantidade de micro-organismos vivos, entre
bactérias e leveduras. O kefir é considerado um alimento funcional pelo
facto de lhe ser atribuído um efeito benéfico numa ou em várias funções
específicas do organismo, além dos efeitos meramente nutricionais, sendo o seu
consumo considerado relevante para a melhoria do estado de saúde e bem-estar,
ou para a redução do risco de doença. Tendo em conta estas premissas, é
necessário garantir que a composição do produto corresponde à do kefir
autêntico. Neste sentido, a composição em bactérias e leveduras, bem como a sua
proporção, é determinante na medida em que os efeitos probióticos do kefir
estão fundamentalmente dependentes das estirpes que compõem a mistura
simbiótica. Em última análise, é esta composição que permiteaumentar a
diversidade microbiana e a modulação da microbiota intestinal que deriva do seu
efeito probiótico.
Existe alguma regulamentação que defina o que pode ou não ser
chamado de kefir? Ou, neste momento, ainda vivemos num “vale tudo”
alimentar neste segmento?
Existem na Europa vários países que regulamentam o kefir
e onde se estabelece claramente que um kefir é um leite fermentado que
tem obrigatoriamente de ser fermentado com bactérias e leveduras. Em Portugal, esta
regulamentação ainda não existe e verifica-se, ao dia de hoje, uma proliferação
no mercado de produtos que, apesar de se apresentarem como kefir, não o
são realmente, dado não possuírem leveduras na sua composição. Estes pseudo kefires
de fermentação exclusivamente bacteriana possuem menor qualidade e quantidade
de culturas vivas probióticas, sendo, como tal, menos interessantes para a
saúde dos consumidores.
Do ponto de vista clínico, que benefícios reais é que o
consumo regular de kefir autêntico pode trazer? Pode ajudar, por
exemplo, em situações de imunidade fragilizada, problemas digestivos?
O kefir levantou o interesse da comunidade científica
devido às suas propriedades benéficas incluindo a melhoria da digestão e
tolerância à lactose, efeito antibacteriano, efeito hipocolesterolémico,
controlo glicémico, efeito anti-hipertensivo, anti-inflamatório, antioxidante,
anticarcinogénico e atividade antialérgica. Deste ponto de vista, o kefir
pode ser considerado um alimento funcional. O facto de estudos experimentais
mostrarem uma associação entre o consumo de kefir e determinados efeitos
fisiológicos ao nível do metabolismo permite considerar o seu potencial como
adjuvante no controlo de algumas patologias metabólicas como a obesidade,
resistência à insulina ou alteração do metabolismo dos lípidos, sendo ainda um
alimento interessante como parte de uma dieta funcional como forma de prevenção
de doenças e otimização da saúde em geral.
Há ainda quem associe a saúde intestinal apenas à
regularidade do trânsito. Como é que podemos mudar esta perceção e mostrar que
o intestino é um verdadeiro “centro de comando” do organismo?
O intestino é um órgão extraordinariamente complexo e
fundamental para o funcionamento de diversos órgãos e sistemas, essencial para
a manutenção da homeostasia, isto é, o equilíbrio de todos os sistemas
biológicos que nos constituem. Considerado o “segundo cérebro” pela vasta rede
neuronal que possui e em estreita relação com a microbiota intestinal,
constitui um eixo bidirecional microbiota-intestino-cérebro, que permite a
integração da vasta informação proveniente do meio externo com funções
metabólicas específicas, cujo desequilíbrio dá forma a algumas doenças
frequentes na população, como a síndrome do intestino irritável, ansiedade, depressão
e com impacto determinante nos mecanismos de perceção da dor. Pelo facto de se
tratar da maior interface do organismo com o meio externo, habitado por milhões
de micro-organismos que comunicam entre si, tem reconhecido o seu lugar de
comando no que diz respeito ao sistema imunitário, sendo fundamental na sua
função de resposta a infeções, bem como na sua regulação. Assim se compreende o
papel do intestino nos mecanismos das doenças alérgicas e inflamatórias,
nomeadamente as doenças autoimunes, que têm em grande medida a sua base ao
nível do intestino. Estas são algumas evidências que podemos apontar para
compreender a importância de manter uma dieta equilibrada e hábitos saudáveis
no que diz respeito ao controlo do stress emocional, prática de
exercício físico, medidas com impacto significativo a nível da saúde e
bem-estar geral.
“O kefir levantou o interesse da comunidade científica devido às suas propriedades benéficas incluindo a melhoria da digestão e tolerância à lactose, efeito antibacteriano, efeito hipocolesterolémico, controlo glicémico, efeito anti-hipertensivo, anti-inflamatório, antioxidante, anticarcinogénico e atividade antialérgica”Pedro Brogueira, especialista em doenças infeciosas e membro da Sociedade Portuguesa para a Inovação em Microbioma e Probióticos (SPIMP)
Falamos muito da importância de escolher produtos naturais,
mas nem sempre o consumidor sabe identificar um kefir de qualidade. Que
sinais deve procurar nas embalagens ou na lista de ingredientes?
É importante garantir que se trata de kefir autêntico,
respeitando o que está descrito no Codex Alimentarius, nomeadamente quanto à
sua composição rica em bactérias e leveduras, pois os benefícios do kefir
prendem-se com os produtos obtidos por ação dos fermentos típicos do kefir,
aos quais se associam as propriedades benéficas anteriormente descritas.
Com a crescente popularidade do kefir, há também
muitas versões caseiras. Que cuidados é que as pessoas devem ter quando decidem
preparar kefir em casa? Há riscos associados?
Sim. Existem riscos consideráveis de contaminação microbiana
relacionados com falhas ao nível na manutenção da higiene obrigatória para a
obtenção de um produto alimentar, podendo ocorrer proliferação de bactérias e
produção de toxinas durante o processo, que podem resultar em infeções
gastrointestinais e intoxicações potencialmente graves.
Acredita que é urgente implementar uma regulamentação mais
clara sobre o que pode ser comercializado como kefir, à semelhança do
que acontece com outros produtos alimentares? Que impacto teria essa medida
para os consumidores e para a indústria?
Sim. Por tudo o que se conhece relativamente aos benefícios
para a saúde associados ao consumo de kefir, sendo de esperar uma maior
procura destes produtos, é essencial garantir informação transparente, uma
definição clara do que é o produto, de qual a sua composição a nível bioquímico
e microbiológico. Do ponto de vista do consumidor, permitirá a garantia de que
os benefícios associados ao kefir podem ser obtidos através do consumo
daquele produto. Para a indústria seria positivo, pois poderia desencadear maior
investimento na procura de maior diferenciação e oferta de um produto o mais
aproximado possível em termos de composição, com respaldo na evidência
científica disponível.
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