Os números não poderiam ser mais claros: no nosso país um terço das crianças, dos 2 aos 12 anos, têm excesso de peso, e destas 16,8% são obesas. São dados que nos chegam do estudo de 2013-2014 da APCOI – Associação Portuguesa Contra a Obesidade Infantil e que colocam Portugal entre os principais países da Comissão Europeia afectados por esta epidemia, considerada a segunda principal causa de morte no mundo que se pode prevenir, a seguir ao tabaco, pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Inverter esta tendência, actualmente já considerada um grave problema de saúde pública, passa acima de tudo pela implementação de comportamentos saudáveis dos quais se destacam a incrementação de actividade física e adopção de hábitos alimentares saudáveis desde cedo. É precisamente aqui, no equilíbrio entre as calorias consumidas através dos alimentos e bebidas e aquelas que são gastas através da actividade física diária que reside a chave para combater a obesidade e ajudar a manter um peso saudável.
Convém não esquecer ainda que além de ajudar no controlo do excesso de peso e prevenção da obesidade na infância e idade adulta, responsável por doenças cardiovasculares, hipertensão, doenças do fígado, asma, apneia do sono, diabetes e vários tipos de cancro, a actividade física regular desde cedo favorece a maturação do sistema nervoso melhora a disposição, aumenta a auto-estima e a autonomia, promovendo ainda a sociabilidade e a integração social".
Prevenir a obesidade deveria passar assim pela promoção da actividade física, defendem vários investigadores, caso, por exemplo de Lluis Serra-Majem, professor de Medicina Preventiva e Saúde Pública da Universidade de Las Palmas de Gran Canaria, Presidente da Fundação de Pesquisa de Nutrição e membro da CIBER Fisiopatologia da Obesidade e Nutrição Carlos III, que insiste ainda que "os programas de saúde pública para prevenir a obesidade deveriam priorizar a promoção da actividade física", e que "a aquisição de estilos de vida saudáveis deve ser o objectivo de qualquer política de saúde".
Uma hora de exercício por dia não sabe o bem que lhes trazia
Segundo a OMS, as crianças devem praticar pelo menos 60 minutos diários de actividade física de intensidade moderada a vigorosa – se se aumentar a sua duração, aumentam os benefícios para a saúde. Apesar de as actividades deverem ser maioritariamente aeróbicas (caminhar, correr, andar, pedalar, nadar, dançar, por exemplo), o Laboratório de Exercício e Saúde da Faculdade de Motricidade Humana, Lisboa, recomenda a incorporação actividades de intensidade elevada três vezes por semana para redução do Índice de Massa Gorda.
Promover a adopção de comportamentos saudáveis que possam travar o excesso de peso e a obesidade, melhorando a qualidade de vida de crianças e adultos deveria tornar-se uma prioridade partilhada, desde os primeiros anos de vida das crianças, pelos pais, professores, treinadores e pediatras. Incutir bons hábitos alimentares e de actividade física nas crianças ajuda a promover a sua manutenção na adolescência e idade adulta, repercutindo-se de forma positiva não só no seu bem-estar, mas também nos custos de saúde pública.
Dicas para os pais
Salvo contra-indicação médica, não há alimentos bons ou maus; moderadamente e sempre que a dieta seja equilibrada, todos os alimentos são permitidos. Doces ou snacks ricos em gorduras devem, no entanto, ser antes reservados para ocasiões especiais e pontuais, como aniversários e celebrações.
Em casa, evite fazer refeições com televisão ligada. Além de comprometer o tempo em família, ver televisão enquanto se come pode influenciar a sensação de saciedade, levando a que se coma mais.
Limite o tempo de televisão, jogos de computador ou consolas e incentive antes a prática de actividade física e dê o exemplo, mesmo nos dias em que o tempo não seja o ideal – impermeáveis, polares, corta-ventos e calçado resistente à agua e chuva são um poderoso aliado.