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Tudo o que precisa de saber sobre o cancro “agressivo” que mais mata em Portugal

Sabe qual é? Quanto mais precoce for o diagnóstico, mais eficazes e mais bem tolerados são os tratamentos. Esteja atento aos sintomas! Fernanda Estevinho, médica oncologista, explica o que há para saber sobre esta doença que é a principal causa de mortalidade por cancro no mundo.

12 de agosto de 2021 às 09:01

Não só em Portugal como no mundo. O cancro do pulmão é a principal causa de mortalidade por cancro. Em 2020, foram cerca de 1,8 milhões de mortes em todo o mundo. Em Portugal, no mesmo ano, o número de mortes registou 4.797. É o segundo tipo de cancro mais comum entre os homens, com uma prevalência de cerca de 16%, e o terceiro tipo de cancro mais comum nas mulheres (7,4%).


1. Quais são os sintomas a ter em atenção?

Um dos grandes entraves com a diagnose e tratamento do cancro do pulmão prende-se com o diagnóstico tardio. O cancro do pulmão é uma patologia muitas vezes silenciosa, como explicou Fernanda Estevinho, médica oncologista do Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, em entrevista à Cofina.

"Numa fase inicial pode ser silencioso. Por outro lado, os sintomas mais frequentes incluem sintomas gerais como a perda de peso, perda de apetite, cansaço ou a tosse", indica a especialista, que apontou ainda outros sinais de alarme a ter em atenção (ver caixa). "Por vezes, os doentes até conhecem os sintomas, mas atribuem-nos a outras causas. É o exemplo da tosse que, muitas vezes, é desvalorizada por poder estar associada ao tabaco, a alergias ou a infeções", acrescenta.

Sinais e sintomas de alarme


"Na presença de sinais de alerta é fundamental contactar o médico. Estes sintomas podem estar associados a cancro ou a doenças não malignas, mas necessitam de ser avaliados pelo médico"


"Ao diagnóstico, a maioria dos doentes apresenta doença avançada ou disseminada pelo corpo (metastizada). A par com o diagnóstico de fases avançadas, é um tumor agressivo. Há, contudo, esperança, baseada na prevenção, no diagnóstico mais precoce e no desenvolvimento de tratamentos cada vez mais eficazes e mais bem tolerados, como tem ocorrido nos últimos anos, em particular no cancro do pulmão de não pequenas células", explica a médica Fernanda Estevinho.

Mitos a esclarecer


2. Que fatores de risco devem ser tidos em conta?

O consumo de tabaco é o principal fator de risco, mas sabia que estudos que avaliam o impacto da exposição passiva descrevem "um aumento de risco de cancro do pulmão de 20-30% para um não fumador casado com um fumador"? "De igual forma, a exposição passiva no local de trabalho ao tabaco aumentou em 22% o risco de cancro do pulmão", refere ainda a médica. São dados a ter em conta para que a exposição seja evitada.

"O risco de cancro do pulmão é influenciado quer pelo número de anos quer pelo número de cigarros (ou equivalente) consumido por dia. Para calcular esta exposição usa-se, habitualmente, uma medida: as unidades maço-ano. Contudo, o risco parece ser influenciado pela duração do consumo"


Acerca dos cigarros eletrónicos, "não existe evidência científica robusta sobre o risco de cancro do pulmão em fumadores de e-cigarros e novas formas de tabaco", explica a médica, ainda que a Organização Mundial de Saúde tenha emitido recentemente "um alerta em que realça os malefícios dos cigarros eletrónicos e outras formas de tabaco similares". Tal como nos explica a especialista em oncologia, este alerta explica-se pelo facto de estes produtos poderem conter nicotina, com vários efeitos nocivos como a criação do vício, as dificuldades de aprendizagem e ansiedade, os malefícios durante a gravidez (alterações do desenvolvimento do bebé, lesões cerebrais ou pulmonares).

Além da nicotina, a médica Fernanda Estevinho chama ainda a atenção para a exposição a aromatizantes e produtos químicos que estão presentes, como aditivos, e que são "substâncias que têm sido identificadas como causadoras de doenças pulmonares e cardiovasculares". Segundo a indicação da especialista, também o efeito do propilenoglicol, incluído nos e-cigarros, quando inalado, está em estudo.

"Os e-cigarros não devem ser usados como um auxílio para a cessação tabágica"



3. Quais são as implicações da doença?

Provavelmente esta é uma informação desconhecida para grande parte dos leitores. Existem diferentes tipo de cancro do pulmão, com os principais a serem o carcinoma pulmonar de não pequenas células e o carcinoma pulmonar de pequenas células.

O primeiro é o cancro do pulmão mais frequente, que corresponde a cerca de 85 a 90% dos casos. Apresenta um crescimento e extensão mais lentos e divide-se em vários outros tipos de cancro. O segundo corresponde a cerca de 10 a 15% dos casos. No entanto, é normalmente de crescimento rápido e agressivo.


4. Que cuidados deve ter?

O estilo de vida pode ter um papel muito importante. Para prevenir a doença é necessário reforçar "a prevenção do início do consumo tabágico e a sua cessação", que para a médica representam um papel fulcral. Este ponto é sobretudo relevante se tivermos em conta que o consumo "se inicia maioritariamente na adolescência e, de acordo com o Relatório do Programa Nacional para a Prevenção e Controlo do Tabagismo 2019, por curiosidade, influência dos amigos ou participação em festas", indica Fernanda Estevinho.

Um dado importante para pais e filhos: "dos jovens que iniciam o consumo [de tabaco], mais de um terço mantêm os hábitos tabágicos na vida adulta"


A mensagem-chave é: "manter hábitos de vida saudáveis, ser seguido pelo médico assistente e, sempre que surjam sintomas, recorrer ao médico", dita a especialista. Tendo a incidência do cancro do pulmão aumentado a uma taxa de 0,5% ao ano, para a oncologista Fernanda Estevinho, "fica nas nossas mãos dizer não ao tabaco e investir em hábitos de vida saudáveis para reduzir o número de novos diagnósticos de cancro do pulmão".

Dicas para reforçar o estilo de vida saudável


Durante a pandemia Covid-19 foi reportado, no Reino Unido e noutros países, um atraso no diagnóstico do cancro do pulmão que, segundo indica a médica especialista Fernanda Estevinho, está relacionado com a atribuição dos sintomas de cancro do pulmão (como a tosse e a falta de ar) a uma possível infeção por Covid-19. Em Portugal, têm decorrido várias campanhas de sensibilização sobre a importância do reconhecimento dos sintomas e do rápido recurso aos cuidados de saúde, para tentar diminuir este problema, como é o caso da campanha O cancro do pulmão não tira férias da AstraZeneca Portugal.


O cancro do pulmão não tira férias


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