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“Estamos a construir um Hospital do Cérebro”

Em entrevista, Filipa Pinheiro Marques, CEO do Hospital Lusíadas Monsanto, fala sobre o caminho de transformação e de afirmação desta unidade de saúde vocacionada para a saúde mental.

15 de maio de 2025 às 10:55

Um ano e meio após a aquisição do Hospital Monsanto pelo Grupo Lusíadas Saúde, a unidade renasceu como um centro de excelência em saúde mental e neurológica. Filipa Pinheiro Marques, CEO do Hospital Lusíadas Monsanto, fala da luta contra o estigma associado à saúde mental e a visão inovadora que pretende mudar a forma como Portugal cuida do cérebro e da mente.

Há cerca de um ano e meio, o Hospital Monsanto foi adquirido pelo Grupo Lusíadas Saúde. Que balanço faz desta integração?

O último ano e meio foi um período de transformação intensa, mas também de afirmação para o Hospital Lusíadas Monsanto. A integração no ecossistema Lusíadas representou um desafio exigente, que implicou muito mais do que a harmonização de sistemas e processos.

A nossa prioridade foi garantir que esta unidade, já reconhecida historicamente pelos cuidados em saúde mental, se tornasse ainda mais forte e integrada numa lógica de excelência clínica. Reforçámos o corpo clínico com profissionais oriundos de outras unidades do Grupo Lusíadas e investimos numa profunda reestruturação da oferta clínica, apostando em recursos de topo e em novas valências de diagnóstico e terapêutica. Hoje, assistimos à consolidação de um projeto que vai muito além da prestação de cuidados: estamos a construir uma nova referência em saúde mental e neurológica em Portugal.

Em 2024, o Hospital Lusíadas Monsanto lançou uma campanha para combater o estigma da saúde mental. Qual foi o impacto?

O impacto foi francamente positivo e superou as nossas expectativas. Além de aumentarmos a notoriedade do hospital, sobretudo na Grande Lisboa, conseguimos algo ainda mais importante: fomentar uma maior abertura da sociedade para falar sobre saúde mental.

Sentimos uma mudança real em curso, tanto na procura de cuidados como na forma como se encara a saúde mental no discurso público e privado. Esta campanha foi apenas o início de um trabalho contínuo para normalizar a procura de apoio psicológico e psiquiátrico, que muitas vezes ainda é vista como um tabu. O nosso compromisso é criar um espaço seguro, no qual pedir ajuda seja sinal de força e de consciência, e não de fraqueza.

Um centro do cérebro e da mente

Quais são os principais serviços diferenciadores que o hospital oferece atualmente?

A nossa visão para o Hospital Lusíadas Monsanto foi, desde o início, muito clara: queríamos criar um verdadeiro Centro de Bem-Estar e Saúde Mental e Neurológica, um Hospital do Cérebro, com uma abordagem holística e integrada.

Concebemos um espaço diferente de um hospital tradicional, com ambientes acolhedores e promotores de bem-estar, porque acreditamos que o espaço físico também cura.

Oferecemos cuidados especializados para ansiedade, depressão, burnout e adicções, bem como para doenças neurológicas como AVC, Alzheimer, Parkinson e outras patologias degenerativas. Temos mais de 100 profissionais altamente qualificados, com equipas multidisciplinares que atuam tanto em regime ambulatório como de internamento.

Além disso, lançámos programas de reabilitação neurológica personalizados e um Laboratório do Sono – áreas que são cruciais para a recuperação e a qualidade de vida dos nossos clientes, mas que nem sempre recebem a atenção devida.

Como podem organizações e sistemas de saúde colaborar para a melhoria da saúde mental no local de trabalho?

O estigma continua a ser o maior obstáculo. Estudos internacionais mostram que, em muitos casos, os colaboradores não se sentem à vontade para utilizar os recursos de saúde mental das suas próprias empresas. Isso cria um círculo vicioso: existe oferta, mas o medo e o preconceito inibem o acesso. É preciso construir uma resposta sistémica. A colaboração entre empresas e profissionais de saúde é fundamental para criar estratégias de prevenção, resposta atempada e reintegração.

 

O Hospital Lusíadas Monsanto também apostou em áreas como medicina física e de reabilitação e imagiologia. O que motivou essa expansão?

A expansão para novas áreas clínicas foi motivada pela vontade de oferecer uma resposta de saúde verdadeiramente de 360 graus. Sabemos que um diagnóstico atempado e uma recuperação eficaz dependem do acesso a cuidados de reabilitação e de diagnóstico de excelência.

Criámos programas de reabilitação neurológica em regime de ambulatório e de internamento, e investimos em tecnologias de ponta como a ressonância magnética e a TAC. Estas novas valências permitem-nos acompanhar o cliente em todas as fases do seu percurso de saúde, num modelo de proximidade, continuidade e personalização.

 

Resposta às doenças neurodegenerativas

 

Portugal enfrenta um aumento das doenças neurodegenerativas. Que resposta pode dar o hospital?

Sim, é verdade que a incidência de doenças como o AVC, o Alzheimer e o Parkinson está a crescer a um ritmo preocupante. Perante este desafio, o Hospital Lusíadas Monsanto pretende assumir um papel ativo na resposta: queremos garantir diagnósticos cada vez mais precoces e tratamentos personalizados que integrem a dimensão neurológica e a dimensão mental da saúde. Estamos a consolidar o hospital como um centro de excelência, com equipas multidisciplinares, tecnologia de última geração e uma abordagem integrada cérebro-mente. Acreditamos que o futuro da saúde passa por quebrar as barreiras artificiais entre corpo e mente.

 

Quais são os próximos passos para o Hospital Lusíadas Monsanto?

Queremos continuar a inovar e a crescer de forma estratégica. Depois do reforço da oferta clínica com reabilitação, imagiologia e análises clínicas, estamos a avaliar a expansão para novas especialidades prioritárias na área da saúde mental e neurológica. Paralelamente, estamos a renovar integralmente as nossas infraestruturas para criar um verdadeiro ambiente terapêutico de excelência – um espaço que combina acolhimento humano, tecnologia avançada e foco total na experiência de cura centrada na pessoa. O nosso compromisso é claro: liderar através da inovação clínica, da responsabilidade social e do foco no bem-estar dos nossos clientes.

 

Que mensagem pode deixar sobre a importância de cuidar da saúde mental?

Diria aos portugueses que não desvalorizem a sua saúde mental. Esta é o pilar de uma vida plena, equilibrada e saudável. A dor psicológica é tão real quanto a dor física – e merece exatamente o mesmo respeito, atenção e cuidado. A saúde exige harmonia entre corpo e mente, e as doenças mentais devem ser encaradas como qualquer outra doença: sem medo, sem preconceito e sem rótulos. Procurar ajuda é um sinal de coragem, não de fraqueza. Porque cuidar da mente é, no fundo, cuidar da vida.

 

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