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Novas armas contra o cancro do pulmão

Entre as doenças oncológicas, é das mais temidas. No entanto, os tratamentos inovadores e a prevenção primária ainda não estão amplamente disponíveis.

06 de agosto de 2025 às 12:47
O cancro do pulmão detém a maior taxa mundial de mortalidade por doença oncológica. Apesar dos avanços na medicina é o diagnóstico mais impactante na esfera profissional e socioeconómica dos doentes, segundo um estudo da empresa GfK Metris. Mas uma nova geração de tratamentos está a redesenhar as estratégias de combate à doença.

Responsável por 4490 mortes em 2023, o número mais elevado desde 2002, o cancro do pulmão é uma das doenças oncológicas mais temidas pelos portugueses, a par das neoplasias de cólon e reto, pâncreas, mama e estômago, conforme dados do estudo A saúde do homem, promovido pela GfK Metris com o apoio da Johnson & Johnson Innovative Medicine. As consequências do carcinoma do pulmão, a designação clínica do cancro do pulmão, também são devastadoras, em particular na esfera profissional e na condição socioeconómica do doente. O estudo mostra que metade dos doentes interrompeu a atividade profissional, perdendo 60 dias de trabalho. Os cuidadores dos doentes também são afetados a nível laboral porque 40 por cento abdicou das suas atividades para poder apoiá-los. "O acompanhamento dos doentes com cancro do pulmão é complexo, decidido por uma equipa multidisciplinar, incindindo a nível psicológico, nutrifuncional e recuperação funcional, além do tratamento em sentido estrito", explica Isabel Magalhães, presidente da Pulmonale, a Associação Portuguesa de Luta Contra o Cancro do Pulmão, referindo-se ao impacto da doença e à resposta clínica.

Respostas inovadoras

Os tratamentos de radioterapia ou quimioterapia, aos quais 63 por cento dos doentes de cancro do pulmão se submetem, também são muito impactantes na qualidade de vida (56 por cento). A cirurgia, a quimioterapia e a radioterapia continuam a desempenhar um importante papel no combate a esta doença, embora o incremento de investigação científica tenha permitido avanços significativos na resposta clínica. Este conhecimento está a traduzir-se na implementação de terapias mais personalizadas e eficazes, utilizadas em doentes com metástases e também em fases mais precoces da doença com resultados animadores. Existem terapêuticas dirigidas para alguns tipos de mutação que têm contribuído para uma melhoria significativa da sobrevida dos doentes mas, segundo o mesmo estudo, a maioria dos doentes com cancro (68 por cento) ainda não faz testes genéticos que permita aferir a sua mutação e dirigir a terapêutica.  "É fundamental garantir acesso rápido a estes tratamentos inovadores, o que implica otimizar os processos de aprovação, agilizar os fluxos de diagnóstico e criar programas de acesso precoce, para que os doentes possam beneficiar destas terapias atempadamente", frisa David Araújo, pneumologista e membro da Comissão Científica do Grupo de Estudos do Cancro do Pulmão.

Falta prevenção

A disponibilização do "tratamento mais adequado em tempo oportuno" é igualmente uma questão relevante para Isabel Magalhães. Mas a responsável da Pulmonale alerta que "é fundamental promover equidade no acesso e no tratamento dos doentes, face às desigualdades nessa matéria". Em Portugal, o crescimento da incidência de cancro do pulmão, que se deve maioritariamente a hábitos tabagistas, é agravado pela inexistência de prevenção primária. Apesar dos repetidos apelos da comunidade médica e científica, o Estado tarda em lançar "um rastreio dirigido à população de maior risco", nas palavras de Isabel Magalhães. O acesso ao diagnóstico do cancro do pulmão é realizado maioritariamente por médicos de família, em resultado de exames e análises de rotina (70 por cento) e não por intermédio de uma ação direta, segundo o estudo. Até ao diagnóstico, que em 70 por cento dos casos ocorre em menos de seis meses, 60 por cento dos doentes recorre a mais de duas especialidades.