Sábado – Pense por si

João Pedro George
João Pedro George
20 de junho de 2018 às 09:00

As ruas também falam

O passado é flutuante, é uma questão permanentemente em aberto, que está em constante modificação, é sempre o produto de um investimento no e do presente. "As coisas não são como são, mas sim como se recordam", dizia o galego Valle-Inclán

As ruas não são mudas, também falam. Ou, como dizia João do Rio, também "pensam, têm ideias, filosofia, religião" (e opiniões políticas, ideologias, uma consciência moral, acrescentaria eu). Não é preciso consultar um catedrático para perceber que as pessoas se organizam e comunicam em torno dos nomes que atribuem às coisas e que, nesta ordem de ideias, a toponímia é uma expressão do pensamento e dos valores de uma sociedade. Por isso defendi aqui, há algumas semanas, que enquanto continuarmos a obsequiar os heróis do colonialismo, mantendo-os no glossário das nossas ruas e admirando-os à distância no tempo, Portugal continuará a viver, toponimicamente, no Estado Novo ou mesmo no final do século XIX. Enquanto esses nomes continuarem a ser merecedores de veneração e uso toponímico, permaneceremos leais, por omissão, às razões que levaram esses militares e exploradores a África. Enquanto a sociedade portuguesa inteira permanecer impassível perante esta toponímia, é a empresa colonial e a sua suposta missão civilizadora que reabilitamos e justificamos todos os dias.

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Dez observações sobre a greve geral

Fazer uma greve geral tem no sector privado uma grande dificuldade, o medo. Medo de passar a ser olhado como “comunista”, o medo de retaliações, o medo de perder o emprego à primeira oportunidade. Quem disser que este não é o factor principal contra o alargamento da greve ao sector privado, não conhece o sector privado.

Adeus, América

Há alturas na vida de uma pessoa em que não vale a pena esperar mais por algo que se desejou muito, mas nunca veio. Na vida dos povos é um pouco assim também. Chegou o momento de nós, europeus, percebermos que é preciso dizer "adeus" à América. A esta América de Trump, claro. Sim, continua a haver uma América boa, cosmopolita, que gosta da democracia liberal, que compreende a vantagem da ligação à UE. Sucede que não sabemos se essa América certa (e, essa sim, grande e forte) vai voltar. Esperem o pior. Porque é provável que o pior esteja a chegar.