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Há alturas na vida de uma pessoa em que não vale a pena esperar mais por algo que se desejou muito, mas nunca veio. Na vida dos povos é um pouco assim também. Chegou o momento de nós, europeus, percebermos que é preciso dizer "adeus" à América. A esta América de Trump, claro. Sim, continua a haver uma América boa, cosmopolita, que gosta da democracia liberal, que compreende a vantagem da ligação à UE. Sucede que não sabemos se essa América certa (e, essa sim, grande e forte) vai voltar. Esperem o pior. Porque é provável que o pior esteja a chegar.
O novo conceito Estratégico de Segurança Nacional dos EUA foi um choque, uma brutalidade, uma chapada na cara de quem, deste lado do Atlântico, gosta da América. Mas admitamos: não foi uma surpresa. Ou melhor: para quem com alguma atenção o discurso de JD Vance na Conferência de Munique, em fevereiro, não pode ter sido uma surpresa. Estava lá tudo: o desrespeito pela Europa; a ideia de que os líderes europeus são fracos; a acusação de que uma ligação com a UE, em vez de fortalecer, torna a presença dos EUA no mundo mais vulnerável; a carga ideológica com um toque de moralismo sobre uma suposta degradação e mesmo declínio dos comportamentos e opções de segmentos que dominam as narrativas europeias. Já aqui tinha escrito uma vez: quem, neste momento, manda na Casa Branca não gosta de nós, europeus. Quer destruir a UE como projeto político. Quer comprometer o caminho de uma UE livre, democrática, que acredita no multilateralismo e na democracia liberal. Quer dar palco a quem, na Europa, tenta destruir a UE por dentro (Orbán é o caso mais óbvio, mas há outros como Fico, na Eslováquia, e agora Babis na Chéquia). Quer dar gás aos partidos populistas e nacionalistas que podem dar cartas em quatro países que até estavam especificados numa versão prévia do documento de 33 páginas: Áustria, Hungria, Polónia e Itália. Chegou a hora de nos deixarmos de estados de espírito: é preciso dizer adeus a esta América de Trump e acelerar a autonomia estratégica. Em 2028 pode ganhar Newsom ou Shapiro ou até AOC? Isso, depois, logo se vê. Porque, na verdade, também pode ganhar Vance ou (menos mal, mas também preocupante) Rubio. Temos de parar de esperar pela América boa. Neste momento, de Washington vêm riscos semelhantes aos de Moscovo no objetivo de destruir a União Europeia e incitar a movimentos soberanistas e nacionalistas. Perante a ameaça crescente da Rússia do ponto de vista militar, temos de tomar opções difíceis: gastar mais em Defesa, gerir internamente as consequências disso, explicar aos mais incautos que isto está mesmo a a acontecer. Deitar abaixo "tabus" como uma Alemanha nuclear. E, já agora, passar por cima do disparate do Brexit e encarar o Reino Unido (e também a Noruega) como se fossem estados membro. Tendo em conta o que está em jogo - a nossa Europa ensanduichada entre o urso russo e o disparate Trump - na prática UE, UK e Noruega estaremos no mesmo barco. Há dias, quando Lídia Jorge venceu o Prémio Pessoa, lembrei-me do que ela avisou, em entrevista no verão passado à revista Visão: "Calcem as galochas: vamos ter de atravessar a lama".
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Fazer uma greve geral tem no sector privado uma grande dificuldade, o medo. Medo de passar a ser olhado como “comunista”, o medo de retaliações, o medo de perder o emprego à primeira oportunidade. Quem disser que este não é o factor principal contra o alargamento da greve ao sector privado, não conhece o sector privado.
Há alturas na vida de uma pessoa em que não vale a pena esperar mais por algo que se desejou muito, mas nunca veio. Na vida dos povos é um pouco assim também. Chegou o momento de nós, europeus, percebermos que é preciso dizer "adeus" à América. A esta América de Trump, claro. Sim, continua a haver uma América boa, cosmopolita, que gosta da democracia liberal, que compreende a vantagem da ligação à UE. Sucede que não sabemos se essa América certa (e, essa sim, grande e forte) vai voltar. Esperem o pior. Porque é provável que o pior esteja a chegar.
A mudança do Chega sobre a reforma laboral, a reboque do impacto da greve, ilustra como a direita radical compete com as esquerdas pelo vasto eleitorado iliberal na economia.