O preço médio de um quarto no País é de 416 euros e muitas vezes famílias têm de recorrer a situações sem contrato que fragiliza ainda mais a sua posição.
Apesar do aumento das propinas, o principal custo associado à universidade para milhares de jovens portugueses está relacionado com a habitação. De acordo com o Observatório do Alojamento Estudantil, o valor médio de um quarto no país é de 416€, um valor que, no entender de Nuno Garcia, diretor-geral da GesConsult, empresa de gestão de obras e prestação de serviços nas áreas de engenharia e imobiliário, não vai baixar se o Estado não atuar na área do licenciamento e da construção, trabalhando com os privados para oferecer habitação aos jovens deslocados. Registou-se um aumento de preço brutal - na ordem dos 50% desde 2022 - no mercado de arrendamento, uma realidade que põe em causa a própria igualdade de acesso ao ensino superior, lamenta Nuno Garcia que acredita que há um círculo vicioso: "como não há oferta suficiente, a pressão sobe e os preços disparam ainda mais, colocando estudantes e famílias numa posição mais frágil e em risco de exclusão académica".
Plano Nacional para o Alojamento no Ensino Superior previa mais de 19 mil novas camas até 2026, mas só cerca de 13% foram concluídasMariline Alves
Um dos desafios que os alunos encontram está relacionado com o momento em que descobrem em que instituição vão estudar. As colocações são anunciadas em final de agosto, início de setembro, por norma a duas semanas do início das aulas, o que torna ainda mais evidente o problema do alojamento. "De repente, milhares de estudantes deslocados são obrigados a procurar casa num mercado que já é, por si só, escasso e caro", explica Nuno Garcia. As famílias são então obrigadas a aceitar "preços acima das possibilidades ou soluções muito precárias", enquanto outros estudantes têm de ficar a uma distância longa da sua escola de eleição porque não conseguem arrendar um quarto perto das universidades.
E a situação grave não se limite apenas às duas maiores cidades universitárias do País. Coimbra, Braga, Aveiro, Vila Real, Covilhã ou Faro são apenas alguns exemplos onde também se sente essa dificuldade, mas o desafio repete-se de norte a sul do país, em todos os pontos em que existem polos de ensino superior, apesar da pressão poder não ser tão elevada quanto em Lisboa e Porto por haver menos pressão turística.
"Do ponto de vista de quem acompanha a construção e a reabilitação, o problema é estrutural. Há claramente um défice de oferta, resultado de décadas de investimento insuficiente em residências públicas e de um mercado de arrendamento muito frágil", analisa o diretor-geral da GesConsult. E um dos principais problemas é que apesar da discussão pública estar há vários anos focada na construção de residências estudantis, a realidade é que muitas nunca chegam a sair do papel, em parte devido à burocracia e ao tempo que todo o processo exige, no entender do especialista.
Esta situação leva muitos alunos a recorrer a soluções informais de arrendamento, aceitado habitar em quartos ou casas sem contrato formal. "Isto traduz-se em situações pouco seguras: divisões adaptadas sem condições adequadas, valores de renda elevados para a qualidade do espaço e ausência de garantias de estabilidade. É um risco acrescido para quem já está numa posição frágil, sobretudo os estudantes deslocados que dependem totalmente destas soluções", explica.
"O privado tem investido em residências, sobretudo em Lisboa e Porto, mas foca-se em produtos premium, com serviços adicionais, que acabam por ser inacessíveis para muitos estudantes. Do lado público, o Plano Nacional para o Alojamento no Ensino Superior previa mais de 19 mil novas camas até 2026, mas só cerca de 13% foram concluídas", muito em parte devido à lentidão do processo não só de licenciamento, como também da falta de mão de obra e dificuldade no financiamento.
Sobre os desafios do privado, Nuno Garcia diz ainda que além da questão dos licenciamentos lentos, o segundo maior encargo está relacionado com a questão fiscal e financeira, entre IVA alto e instabilidade no acesso a financiamento e a falta de mecanismos de incentivo claros, "muitos investidores acabam por hesitar em apostar em residências estudantis, sobretudo quando comparadas com outros produtos imobiliários mais rentáveis".
E qual a solução? Nuno Garcia acredita que tem de passar, acima de tudo, pela necessidade de simplificar o processo. "É preciso simplificar licenciamentos, criar parcerias público-privadas que ponham em prática o que está previsto no papel e, sobretudo, dar escala e continuidade à construção, para que este não seja apenas mais um ciclo curto de investimento que depois desaparece", ou seja não se esgotar num projeto único e prometer continuidade de projetos.
"No fundo, é uma crise nacional que exige uma resposta coordenada e abrangente, porque todos os estudantes, independentemente da cidade onde estudam, deveriam ter acesso a soluções de alojamento dignas e acessíveis", conclui.
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui ,
para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana. Boas leituras!
Para poder adicionar esta notícia aos seus favoritos deverá efectuar login.
Caso não esteja registado no site da Sábado, efectue o seu registo gratuito.
Para poder votar newste inquérito deverá efectuar login.
Caso não esteja registado no site da Sábado, efectue o seu registo gratuito.
A PSP enfrenta hoje fenómenos que não existiam ou eram marginais em 2007: ransomware, ataques híbridos a infraestruturas críticas, manipulação da informação em redes sociais. Estes fenómenos exigem novas estruturas orgânicas dedicadas ao ciberespaço, com autonomia, meios próprios e formação contínua.
As palavras de Trump, levadas até às últimas consequências, apontam para outro destino - a tirania. Os europeus conhecem bem esse destino porque aprenderam com a sua miserável história.