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Santana Barros: "Este tuga é um porco, mas os genuínos merecem. São armados em racistas e únicos donos de Angola." Pergunta número um: quem é Santana Barros? Resposta: um comentador inflamado de um blogue angolano em que foi reproduzido um artigo de opinião publicado originalmente no Expresso. O que nos leva à pergunta número dois, aquela em que se pretende identificar a identidade do alegado "porco". O "porco" é, tudo leva a crer, Henrique Raposo, colunista do Expresso e autor do artigo em causa. O que nos leva à terceira e última questão: o que fez Henrique Raposo para figurar num comentário na surpreendente qualidade de suíno? A resposta está no texto que assinou, sobre o Jornal de Angola, a voz oficial do regime angolano. Escreveu Raposo: "Sei pouca coisa sobre Angola. Sei que não gostava de kizomba nas festas da escola, ou melhor, até dançava aquela metralha sonora, mas preferia a doçura do funaná cabo-verdiano, sei que as angolanas gastam milhares de euros na Rua Castilho, no Corte Inglés ou na Av. da Liberdade, uma vez vi uma senhora angolana comprar 5 mil euros de roupa de bebé com um maço de notas enroladas ali no quarto ou quinto piso do El Corte Inglés (confesso que olhei à volta para ver se estava dentro de um filme), sei que angolanos compram casas no meu antigo bairro com malas de dinheiro."
E prossegue: "Tenho de confessar, a minha curta lista de conhecimentos sobre Angola é encabeçada pelo Jornal de Angola, a grande escola de humor do Hemisfério Sul. Sou leitor diário e queria muito ser assinante. Qual Inimigo Público dos trópicos (sim, Angola não é bem nos trópicos, mas não me estraguem a imagem), o Jornal de Angola tem muita graça, uma graça que desconhecia entre angolanos, seres particularmente sisudos, quiçá suíços, uma graça que rebenta sobretudo na questão política. Há dias, por exemplo, um redactor declarava que o regime angolano é uma democracia. Não dizia eu que isto é humor do bom? Involuntário, mas bom."
O que para Henrique Raposo é "humor do bom", para José Ribeiro, o polémico director do jornal do regime de José Eduardo dos Santos, são "técnicas editoriais segundo critérios que têm a ver exclusivamente com o interesse público", esgrimidas por um jornal que não se verga perante os "neocolonialistas" de Lisboa.
Sabe-se pouco sobre o português que em Janeiro de 2007 foi escolhido pelo Presidente angolano para controlar com pulso de ferro a informação do principal jornal do país. Licenciado em Sociologia pelo ISCTE em 2000, José Ribeiro foi, antes de partir definitivamente para Angola, assessor de imprensa da embaixada angolana em Lisboa e em Genebra. Depois disso, seguiu para Luanda, onde desde então assumiu o estatuto de ponta -de -lança do regime no combate mediático com políticos e jornais portugueses.
"Punhaladas históricas"
O último exemplo é recente: a propósito da cobertura mediática da visita do resistente Luaty Beirão a Portugal, José Ribeiro, que não respondeu ao contacto da SÁBADO, escreveu o que se segue: "Quarenta e um anos depois da independência de Angola, as elites portuguesas continuam a tratar-nos com má educação, como se ainda fôssemos seus escravos. A forma execrável como trataram Angola por causa do caso dos ‘Revus’, e em particular do cidadão português Luaty Beirão, investigado e acusado de crimes graves em Angola, é característica dessa atitude de Lisboa. As punhaladas portuguesas são históricas."
A verdade é que as "punhaladas", a existirem, não são apenas oriundas de Portugal nem se dirigem somente ao Estado angolano. Vêm também de Angola e são dedicadas a José Ribeiro, que ao longo dos 10 anos que leva como director já foi acusado publicamente de tudo. De corrupção na gestão do Jornal de Angola, onde teria feito compras sem comprovativos, intermediações de negócios sem necessidade apenas para encarecer os produtos e os pagamentos a "colaboradores -fantasmas", mas também de ter pago mais de 8 mil dólares ao assessor português Artur Queiroz para ir passar férias ao Brasil, de alegados crimes de calúnia e difamação e de muitas coisas mais. Apesar disso, Ribeiro resiste. E, tudo o indica, resistirá – com a bênção de José Eduardo dos Santos, o homem que já apelidou de figura "excepcional" e "imbatível".
Texto originalmente publicado na edição n.662, de Janeiro de 2017, da SÁBADO
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