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É na hora da refeição, quando se repetem os nomes dos objectos, que os bebés aprendem as primeira palavras, dizem os investigadores
Quando Mikey nasce, chora, esperneia e diz: "Socorro! Ponham-me lá dentro outra vez." E o grito tem voz adulta, a de Bruce Willis. O bebé não fala, mas ouvimo-lo pensar a todo o momento em Olha quem fala. Cerca de 27 anos passados sobre a estreia da comédia romântica, podemos ainda não saber o que é que eles pensam, mas estamos mais perto. Um estudo norte-americano atou câmaras às cabeças de oito bebés para ter uma visão egocêntrica – ou seja, ver tudo do ponto de vista deles – e desvendar como chegam às primeiras palavras. Conclusão: mesa, cadeira, taça ou colher estão entre as primeiras coisas a que o bebé tenta dar nome, porque é o que aparece de forma mais repetida no seu universo visual.
Parece simples? Para eles não é. "Tem-se assumido que, por os bebés não conhecerem palavras têm de aprender as primeiras ao ligarem o que ouvem a uma coisa – como ouvir a palavra garrafa ao olhar para uma garrafa", explica à SÁBADO Linda Smith, uma das autoras do estudo. "O problema é que o mundo visual está cheio de coisas – a mesa, a colher, o bibe – e as cenas são complexas. Então como é que ligam as palavras aos objectos?"
Responder à pergunta foi o objectivo do estudo realizado nos Estados Unidos por investigadores da Universidade do Indiana e do Instituto de Tecnologia da Geórgia e publicado na Philosophical Transactions, da Royal Society, uma instituição científica britânica.
Câmaras leves, fáceis de operar e que não corriam o risco de aquecer foram colocadas nas cabeças das crianças entre os oito e os 10 meses – três rapazes e cinco raparigas. Os pais e os educadores de infância receberam instruções para captar momentos-chave na rotina diária, como sentar para comer. No total foram captadas cerca de 500 horas de vídeo e 147 momentos de refeição (com milhares de frames) gravados. Quando as imagens foram estudadas, os objectos mais recorrentes no ângulo de visão do bebé foram anotados – e acabaram por coincidir com os primeiros substantivos que o bebé tentava dizer.
Além de ajudar a entender o de-senvolvimento da linguagem no ser humano, o estudo poderá ajudar a compreender determinadas perturbações. Em crianças com autismo, por exemplo, a origem do problema poderá estar no processamento da informação visual. Mais: uma criança que cresça num ambiente familiar instável – onde por exemplo o caos visual seja mais acentuado do que o normal – pode ter dificuldades em desenvolver este mapa da linguagem, e isso significará eventuais problemas de aprendizagem posteriores.
Primeiro os fonemas
"O ambiente que rodeia a criança tem uma importância crucial na sua linguagem", concorda o pediatra Gomes Pedro, lembrando que é cerca dos 10 meses que começam a aparecer os fonemas – ou os sons mais elementares que representam palavras. Assim, em chucha, o bebé começa com "chu", na palavra mamã, começa com "ma", em avó por "vó", papá é por "pá."
Mas há outro fonema importante – o "memé". É o som que se refere ao objecto transitivo, explica o pediatra: "É aquele que representa um substituto maternal. Pode ser um peluche, por exemplo." Só depois o bebé avança para fonemas mais complexos e até passa a fazer associações – como olhar para um biberão e saber que é hora do leite.
Artigo publicado originalmente na edição n.º 662, no dia 5 de Janeiro de 2017.
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