Bastaram três minutos – e não os 15 de Andy Warhol – para um cientista português ficar famoso numa espécie de Shark Tank académico. Os investidores aka "tubarões" eram sete, e, de forma agregada, representavam fundos de 300 milhões de euros. O "pitch", ou apresentação cujo tempo limite equivale a uma viagem de elevador, tinha de ser claro e conciso. O projecto vendável.
Pela nanotecnologia e potencial de mercado global, de nove mil milhões de euros, a equipa de Lino Ferreira destacou-se. Na mesma tarde, de 22 de Julho passado, os sete jurados (entre portugueses e norte-americanos) deram o veredicto após uma reunião à porta fechada de 15 minutos no ISCTE: sim, o projecto No Micro, também conhecido por Bug Kill (mata micróbios) tinha condições para avançar num programa de aceleração intensiva e dos mais consagrados a nível mundial, apenas acessível por convite – o Boston Global Immersion, em Boston, na primeira quinzena de Dezembro.
Além da viagem a Boston, o premiado passará por três sessões intensivas de coaching e mentoria, num total de 1.150 horas, e poderá vir a receber várias tranches de investimento de capital de risco (na ordem dos dez milhões de euros, de forma faseada) até atingir o mercado – o que pode vir a acontecer dentro de três anos.
As etapas de crescimento são validadas pelo mentor, que organiza a competição há sete edições: o Building Global Innovators (BGI), promovido pelo MIT Portugal em parceria com o Massachusetts Institute of Technology (MIT). "A No Micro está a iniciar um projecto empresarial que será acompanhado pela BGI num ano de aceleração, acrescido até cinco", explica à SÁBADO o organizador do concurso, Gonçalo Amorim (foto em baixo).
Aqui não há espaço para (más) surpresas, porque Lino Ferreira passou por várias avaliações (inclusive 15 horas diárias, durante uma semana, de formação estratégica e de foco de mercado) e o júri de investidores também já esteve do lado de lá.
"São empreendedores em série com experiência acumulada", garante Gonçalo Amorim. Entre a lista de notáveis que investiram um total de 80 milhões de euros em startups da BGI constam a Union Square Ventures, True Ventures, Cisco Investments, Verizon Ventures, Yamaha Motor Ventures. Boston será o primeiro voo da No Micro, que terá acesso ao programa de aceleração no valor de cinco mil euros. "Já é uma fase para os empreendedores ‘obstinados’, para startups em considerável tração e que estejam à procura de rondas de um a dez milhões de euros", acrescenta Gonçalo Amorim, que antevê em Lino Ferreira um virtuoso dos negócios. "Energia, persistência, vontade, capacidade de gerir a ambiguidade, etc. São as características fundamentais que procuramos nos promotores, para que não nos ‘deixem ficar mal’".
Penso para feridas crónicas pode gerar milhões
Entre 211 candidatos de 28 países, dos quais 40 foram entrevistados presencialmente, somente nove passaram à fase seguinte da prova oral no ISCTE – iriam dez, não fosse a desistência de última hora de um finalista devido ao golpe de Estado na Turquia. Na finalíssima, ganhou a invenção de um penso revestido com nano-partículas.
O projecto nasceu de um problema de contaminação de dispositivos médicos. Akhilesh Rai, 36 anos, desenvolveu a parte tecnológica; Michela Comune, 33, a aplicação à pele. Se, à partida, parece algo hermético, o público-alvo dissipa as dúvidas de investidores: há 6,5 milhões de pacientes com cicatrizes crónicas (úlceras venosas, úlceras de pressão e feridas de diabetes), que demoram semanas a curar e custam 10 biliões de dólares (os tais nove mil milhões de euros, referidos acima) aos sistemas de saúde.
É aqui que entra o potencial de negócio do Bug Killer: o penso permitirá regenerar os tecidos em menos tempo e prevenir infecções, tornando-se num dispositivo médico útil para profissionais de saúde e, por conseguinte, rentável para a startup. "Não é o penso clássico de feridas agudas. Adapta-se a diferentes tamanhos e têm de ser utilizados pelo staff médico", explica à SÁBADO Lino Ferreira, coordenador da equipa. Os primeiros ensaios clínicos já decorreram com ratos de laboratório e foram bem-sucedidos.
O momento decisivo deu-se quando o investigador de neurociências da Universidade de Coimbra e do centro Biocant, de 45 anos, fez a apresentação supersónica no auditório da universidade: resumiu cinco anos de trabalho em três minutos. Pelo palanque já tinham passado candidatos estrangeiros e portugueses: uns mais nervosos ou maçudos, outros demasiado descontraídos.
Na primeira fila do auditório, o painel de jurados avaliava o ADN do empreendedor – como quem diz, se ele estaria em condições de ir a Boston. Richard P. Kivel, 49 anos, jurado do prestigiado concurso MIT $100K e do sétimo da BGI acreditou logo na equipa de Coimbra: "Tinha especialização técnica, um enorme potencial de mercado e o processo de regulamentação não é tão complicado como o de um medicamento." Richard valoriza a comunicação, uma vez que começou a carreira na área de vendas. "Para convencer temos de ser muito directos e transparentes. Podem até apontar pontos fracos, para que os investidores ajudem a resolvê-los."
Aceleradora em números
€80 milhões – Fundos angariados pelas startups lançadas pelo BGI, desde a criação do programa em Março de 2010
2.500 empreendedores - Candidataram-se à aceleradora, desde o início até à data
1.150 horas – Apoio especializado que a BGI presta aos finalistas, durante um ano
117 projectos – Contaram com o acompanhamento deste programa, dos quais 74 estão activos (sem incluir os da edição em curso)
51,7% startups – São investidas após a saída da aceleradora nos primeiros 18 meses
48% candidaturas - São provenientes do estrangeiro
30 peritos e investidores - Foram ao ISCTE analisar os projectos da sétima edição do BGI
12 semanas – Duração do programa para os finalistas, para identificar riscos e desenvolver plano de acção de entrada no mercado
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A ideia parece elementar: um penso para feridas crónicas. Mas não é: envolve nanotecnologia e cinco anos de investigação. Para convencer os investidores, o cientista de Coimbra só precisou de discursar três minutos. Um projecto de negócio com potencial de milhões
Bastaram três minutos – e não os 15 de Andy Warhol – para um cientista português ficar famoso numa espécie de Shark Tank académico. Os investidores aka "tubarões" eram sete, e, de forma agregada, representavam fundos de 300 milhões de euros. O "pitch", ou apresentação cujo tempo limite equivale a uma viagem de elevador, tinha de ser claro e conciso. O projecto vendável.
Pela nanotecnologia e potencial de mercado global, de nove mil milhões de euros, a equipa de Lino Ferreira destacou-se. Na mesma tarde, de 22 de Julho passado, os sete jurados (entre portugueses e norte-americanos) deram o veredicto após uma reunião à porta fechada de 15 minutos no ISCTE: sim, o projecto No Micro, também conhecido por Bug Kill (mata micróbios) tinha condições para avançar num programa de aceleração intensiva e dos mais consagrados a nível mundial, apenas acessível por convite – o Boston Global Immersion, em Boston, na primeira quinzena de Dezembro.
Além da viagem a Boston, o premiado passará por três sessões intensivas de coaching e mentoria, num total de 1.150 horas, e poderá vir a receber várias tranches de investimento de capital de risco (na ordem dos dez milhões de euros, de forma faseada) até atingir o mercado – o que pode vir a acontecer dentro de três anos.
As etapas de crescimento são validadas pelo mentor, que organiza a competição há sete edições: o Building Global Innovators (BGI), promovido pelo MIT Portugal em parceria com o Massachusetts Institute of Technology (MIT). "A No Micro está a iniciar um projecto empresarial que será acompanhado pela BGI num ano de aceleração, acrescido até cinco", explica à SÁBADO o organizador do concurso, Gonçalo Amorim (foto em baixo).
Aqui não há espaço para (más) surpresas, porque Lino Ferreira passou por várias avaliações (inclusive 15 horas diárias, durante uma semana, de formação estratégica e de foco de mercado) e o júri de investidores também já esteve do lado de lá.
"São empreendedores em série com experiência acumulada", garante Gonçalo Amorim. Entre a lista de notáveis que investiram um total de 80 milhões de euros em startups da BGI constam a Union Square Ventures, True Ventures, Cisco Investments, Verizon Ventures, Yamaha Motor Ventures.
Boston será o primeiro voo da No Micro, que terá acesso ao programa de aceleração no valor de cinco mil euros. "Já é uma fase para os empreendedores ‘obstinados’, para startups em considerável tração e que estejam à procura de rondas de um a dez milhões de euros", acrescenta Gonçalo Amorim, que antevê em Lino Ferreira um virtuoso dos negócios. "Energia, persistência, vontade, capacidade de gerir a ambiguidade, etc. São as características fundamentais que procuramos nos promotores, para que não nos ‘deixem ficar mal’".
Penso para feridas crónicas pode gerar milhões
Entre 211 candidatos de 28 países, dos quais 40 foram entrevistados presencialmente, somente nove passaram à fase seguinte da prova oral no ISCTE – iriam dez, não fosse a desistência de última hora de um finalista devido ao golpe de Estado na Turquia. Na finalíssima, ganhou a invenção de um penso revestido com nano-partículas.
O projecto nasceu de um problema de contaminação de dispositivos médicos. Akhilesh Rai, 36 anos, desenvolveu a parte tecnológica; Michela Comune, 33, a aplicação à pele. Se, à partida, parece algo hermético, o público-alvo dissipa as dúvidas de investidores: há 6,5 milhões de pacientes com cicatrizes crónicas (úlceras venosas, úlceras de pressão e feridas de diabetes), que demoram semanas a curar e custam 10 biliões de dólares (os tais nove mil milhões de euros, referidos acima) aos sistemas de saúde.
É aqui que entra o potencial de negócio do Bug Killer: o penso permitirá regenerar os tecidos em menos tempo e prevenir infecções, tornando-se num dispositivo médico útil para profissionais de saúde e, por conseguinte, rentável para a startup. "Não é o penso clássico de feridas agudas. Adapta-se a diferentes tamanhos e têm de ser utilizados pelo staff médico", explica à SÁBADO Lino Ferreira, coordenador da equipa. Os primeiros ensaios clínicos já decorreram com ratos de laboratório e foram bem-sucedidos.
O momento decisivo deu-se quando o investigador de neurociências da Universidade de Coimbra e do centro Biocant, de 45 anos, fez a apresentação supersónica no auditório da universidade: resumiu cinco anos de trabalho em três minutos. Pelo palanque já tinham passado candidatos estrangeiros e portugueses: uns mais nervosos ou maçudos, outros demasiado descontraídos.
Na primeira fila do auditório, o painel de jurados avaliava o ADN do empreendedor – como quem diz, se ele estaria em condições de ir a Boston. Richard P. Kivel, 49 anos, jurado do prestigiado concurso MIT $100K e do sétimo da BGI acreditou logo na equipa de Coimbra: "Tinha especialização técnica, um enorme potencial de mercado e o processo de regulamentação não é tão complicado como o de um medicamento." Richard valoriza a comunicação, uma vez que começou a carreira na área de vendas. "Para convencer temos de ser muito directos e transparentes. Podem até apontar pontos fracos, para que os investidores ajudem a resolvê-los."
Aceleradora em números
€80 milhões – Fundos angariados pelas startups lançadas pelo BGI, desde a criação do programa em Março de 2010
2.500 empreendedores - Candidataram-se à aceleradora, desde o início até à data
1.150 horas – Apoio especializado que a BGI presta aos finalistas, durante um ano
117 projectos – Contaram com o acompanhamento deste programa, dos quais 74 estão activos (sem incluir os da edição em curso)
51,7% startups – São investidas após a saída da aceleradora nos primeiros 18 meses
48% candidaturas - São provenientes do estrangeiro
30 peritos e investidores - Foram ao ISCTE analisar os projectos da sétima edição do BGI
12 semanas – Duração do programa para os finalistas, para identificar riscos e desenvolver plano de acção de entrada no mercado
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