A fúria do algoritmo
“Sem pedirmos um orçamento não vamos saber quanto custa, não é?”, disse o meu eu imobiliário, como quem fechava negócio.
“Sem pedirmos um orçamento não vamos saber quanto custa, não é?”, disse o meu eu imobiliário, como quem fechava negócio.
“Os polvos vão dominar o mundo”, dizia-lhe eu. Com cara de quem não dominava o tema moluscos, ele iria contrariar-me.
Deem-me um livro e 10 minutos vão parecer-me uma manhã, uma tarde, um serão. e não será isso melhor?
Para os pais daquela miúda, aquele domingo era só mais uma quarta-feira, só que esta com menu de novela brasileira.
Que calor estava, que satisfação era jantar na rua, que encanto trazia o verão. Toda a gente em Lisboa tinha tido a mesma ideia.
Aquele seria o dia em que conheceria o conceito “lamentar não viver pela primeira vez, outra vez, uma coisa já vivida”.
No fim do jantar o dono da casa podia deslocar-se da mesa para o lado de lá do balcão e preparar um daiquiri.
Era com o cheiro a carvão e o som de um fado ao longe que lhes dizíamos que havia outra Lisboa, mais moderna.
O desconforto naquela estação de correios era evidente: os jovens tinham pressa, os velhos tinham tempo.
Na mesa, quatro jovens de mais 60 anos riam ao desbarato. Uma boa mesa é a que nos permite ouvir a conversa do lado.
Daquele paredão dava para ver tudo: a praia-família, a praia da ressaca e a praia das férias à conta de feriados e pontes.
Não me levem a mal, nada contra almas penadas. Só que gosto dos meus mortos como dos meus vivos: bem-educados.
Estava tudo combinado para umas muito propositais 19h30 mas às 19h15 eu comecei a temer.
No tempo de um fósforo, os seis à mesa éramos o dobro, o triplo, uma multidão – nós e os nossos fantasmas.
Estamos a chegar à idade em que, ainda não sendo velhos, retiramos especial prazer de dizer que estamos velhos.
Peso de um quilo? Temos. Barra de chão para fazer flexões? Claro. Um kettlebell de oito quilos? Naturalmente.