Os contadores de traumas
“Tu gostavas destes parques aquáticos quando eras pequena?” “Nunca”, respondi, “sempre fugi deles”.
“Tu gostavas destes parques aquáticos quando eras pequena?” “Nunca”, respondi, “sempre fugi deles”.
Sem ter uma posição definida (não queria atacar nem defender), mudei a agulha: “Seria tão estranho como pedir um autógrafo”.
A brincadeira consistia em desaparecermos, idealmente, uma temporada da vista dos outros miúdos, logo, também dos pais.
“Sem pedirmos um orçamento não vamos saber quanto custa, não é?”, disse o meu eu imobiliário, como quem fechava negócio.
“Os polvos vão dominar o mundo”, dizia-lhe eu. Com cara de quem não dominava o tema moluscos, ele iria contrariar-me.
Aquela não era a primeira vez que eu caía nas manhas da internet. Não conheço quem compre tanto o que ela quer vender.
O desafio de uma vida à mesa não é a degustação, mas a sua prima, a harmonização de vinhos.
Deem-me um livro e 10 minutos vão parecer-me uma manhã, uma tarde, um serão. e não será isso melhor?
Para os pais daquela miúda, aquele domingo era só mais uma quarta-feira, só que esta com menu de novela brasileira.
As nossas crises aconteciam à vez. E era a vez dela, o que me fez insistir: o lugar comum da psicoterapia é o divã.
Tanta conversa para dizer: só tinha passado um fim de semana. O que poderia acontecer em apenas três dias?
Pelo tom de voz, eram amigas das antigas, de quando a proteção solar parecia opcional e se passava óleo para ficar laranja.
Que calor estava, que satisfação era jantar na rua, que encanto trazia o verão. Toda a gente em Lisboa tinha tido a mesma ideia.
O rapaz seguiu o seu caminho, incomodado mas sem devolver a violência. Os cinco sentiram uma pontinha de vergonha.
Aquele seria o dia em que conheceria o conceito “lamentar não viver pela primeira vez, outra vez, uma coisa já vivida”.
No check-in, o primeiro espirro. Nada de alarmes a soar, só um “bless you” pouco algarvio mas muito hospitaleiro.