As situações de seca em Portugal tornaram-se cada vez mais frequentes desde 2000 e o cenário deverá piorar em consequência das alterações climáticas e do aumento de frequência dos fenómenos extremos, disse a climatologista Vanda Pires, do IPMA.
Em entrevista à agência Lusa, Vanda Pires, da Divisão de Clima e Alterações Climáticas do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), salientou que as situações de seca são frequentes em Portugal continental com consequências graves na agricultura e pecuária, na energia e no bem-estar das populações.
"As alterações climáticas estão a tornar as situações de seca mais graves e habituais. Os fenómenos extremos que temos tido nos últimos tempos estão a acontecer com mais frequência e trazem maior impacto. O aumento da temperatura - que tem ocorrido nas últimas décadas - tem implicações em todo o sistema meteorológico que existe e isto vai ter implicações nas ondas de calor, nas situações de seca, na falta de precipitação", esclareceu.
De acordo com a especialista do IPMA, estes fenómenos vão ser cada vez mais frequentes "nas nossas latitudes", no Mediterrâneo.
"A situação geográfica do nosso país é favorável à ocorrência de episódios de seca. Vamos ter secas mais frequentes, mais intensas, num cenário de alterações climáticas e temperaturas mais altas", contou.
"Obviamente que há zonas do globo em que a precipitação vai aumentar, mas em Portugal isso não deverá acontecer", disse.
A climatologista lembrou que a seca mais prolongada registada em Portugal continental ocorreu de 1943 a 1946, abrangendo mais de 50% do território.
"A partir dos anos 1980 e sobretudo a partir de 2000 começámos a ter uma maior frequência de situações de seca. Tivemos vários períodos de tempo seco em 2009, em 2012, 2015 e em 2017/18. Mas, foi em 2004/2005 que tivemos a seca mais significativa e intensa em Portugal que abrangeu todo o território", disse.
Segundo a especialista, esta seca (2004/05) foi a mais grave pela severidade, duração ou extensão, tendo o país estado durante meses em situação de seca severa e extrema.
"No futuro, o panorama deverá agravar-se. Até ao final deste século, as projeções indicam que haja uma diminuição da precipitação em cerca de 15% dependendo da região. Na região sul pode chegar aos 30%", adiantou.
Por isso, destaca, é urgente uma mudança de comportamento e prevenção, fazendo uma boa gestão da água.
"Para já, os efeitos da seca estão a fazer-se sentir sobretudo na agricultura e na pecuária, em termos de gado, de alimento e de água. Já se sentem algumas implicações nos cereais, nas culturas de sequeiro. A produção de arroz na região do Sado já está com problemas", disse.
"Felizmente temos muita agricultura de irrigação. Enquanto houver água nas barragens vamos colmatando a situação. Mas, temos de nos lembrar que as consequências de uma seca fazem-se sentir na agricultura e pecuária, mas também nos recursos hídricos e na saúde das populações", disse.
Para já, Portugal continental continua em seca meteorológica.
Vanda Pires explicou à Lusa que o IPMA define quatro tipos de seca: meteorológica, agrícola, hidrológica e socioeconómica.
"Temos a seca meteorológica que está diretamente ligada ao défice de precipitação, quando ocorre precipitação abaixo do que é normal. Depois, à medida que vamos avançando, em que o défice vai aumentando ao longo de dois, três meses, passamos para uma seca agrícola porque começa a haver deficiências ao nível da água no solo", explicou.
Depois, segundo a especialista, a manter-se a situação, esta evolui para seca hidrológica, quando começa a haver falta de água nas barragens.
"Pode ainda haver a seca socioeconómica, que é considerada quando já está uma seca instalada, quando já tem impacto na população", disse.
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