
Estamos habituados a percorrer muitos e diferentes pontos. Uns cardeais. Outros leigos. Uns de prazer. Outros de dor. Alguns nevrálgicos. E uns tantos de viragem. Mas onde está a ecologia de tudo isto? Onde fica mesmo o nosso ecoponto?
Pedi a uma amiga (que também é coach) – Sofia Guedes Vaz (investigadora e Presidente da Sociedade de Ética Ambiental) – que me oferecesse uma definição de ecologia. De entre as suas diferentes e valiosas formas de Ser, e no meio dos escritos cujas linhas ajudam a traçar o seu caminho, emprestou-me um pouco do que andava no reflexo do seu ecrã: "Ecologia entrou no nosso universo pela pena do alemão Ernst Haeckel (1834-1919) que considerando ser impossível estudar organismos independentemente dos seus contextos declarou no seu livro "Generelle Morphologie der Organismen" de 1866 que "é preciso comparar as formas de vida na sua totalidade coletiva, nas suas inter-relações gerais, mútuas e contínuas" cunhando o termo ecologia - "a ciência das relações mútuas dos organismos". Ofereceu-nos ainda, a Sofia, este delicioso apontamento: "a ideia e grande metáfora para o coaching é isso mesmo, a ciência sobre as inter-relações; a ciência que tenta perceber o equilíbrio do ecossistema; a ciência que pensa nas características que mantêm os ecossistemas vivos e em equilíbrio".
Enquanto organismo que Somos, "em primeira instância, somos levados pela sede de viver, pela fome, pela necessidade de amar, pelo instinto de encontramos o nosso lugar na sociedade humana …" (Carlo Rovelli). É nesta leva, neste caminho que traçamos ou em que nos deixamos trilhar, que definimos o nosso ponto eco. E como esta viagem, feita de paragens, aqui, às quartas-feiras, se faz de perguntas para as quais cada um nós inventará as suas respostas, dou vida à que se segue: Vamos poluir ou limpar o mundo?
Para responder, talvez possamos começar por saber onde se estreia o (nosso) mundo. Em que pensamentos o começamos a delimitar, ora plano ora redondo, em que olhamos um céu que se move ou o fazemos mover em função das nossas ações. Esse pequeno ponto de partida (olha outro), essa pequena forma de vida individual que é o pensamento, circunscreve o nosso ecoponto. E o nosso ecoponto pode estar não apenas a poluir o nosso próprio interior mas também o dos que nos rodeiam e a própria humanidade, essa outra forma de vida, esta coletiva.
Sabemos, porque nos chegou de mãos dadas, pela Sofia e pelo Ernst, que ecologia passa por "inter-relações gerais, mútuas e continuas", e sabemos, porque nos chegou de mãos dadas, pelo Dan (Goleman) e pelo Richie (Davidson) que "o cultivo do termo cuidado com o bem-estar dos outros tem um surpreendente e singular efeito: o sistema de circuitos cerebrais para a felicidade revitaliza-se, juntamente com a compaixão. (…) Por outro lado, a benevolência compassiva fomenta os pensamentos calorosos e o afeto pelos outros".
Não importa, portanto, de que cor alimentamos o nosso ecoponto. Verde, azul, amarelo, castanho? Não importa. Talvez importe mais aceitarmos todas as cores. Mas a verdade é que a resposta à pergunta encimada, aquela sobre o mundo, esse ser vivo que às vezes nos surge demasiado grande para nos ocuparmos dele, parece estar mais próxima de nós do que, à primeira vista, podemos imaginar. Pode ser que o nosso ecoponto não seja aquele aglomerado de contentores, muitas vezes eles próprios a precisar de reciclagem, que ficam ali, ao fundo da rua, onde depositamos o nosso lixo na convicção de que uma árvore nascerá. Pode ser que o nosso ecoponto seja um ponto bem mais difícil de encontrar em nós (e não me referido ao Geograficamente desafiante) que podemos encher daquilo que nos faz mover, levantar desta cadeira onde me rescrevo e oferecer ao mundo o meu mais alto potencial.
Agora Eckhart Tolle com um desafio poderoso: "Se deixar de criar mais dor a si próprio, deixará de criar mais dor para os outros. E também deixará de contaminar a bela terra, o espaço interior e a psique coletiva humana com a negatividade ao criar problemas".
Estou ciente do risco de abordar um ponto de dor num momento demasiado "covidativo", e muito menos se deve promover a viagem neste estado. Mas é precisamente por este estado que vivemos que podemos começar por mudar a cons"ciência das relações mútuas", ativando o nosso espaço interior e contribuindo para o equilíbrio do ecossistema.
"Navegamos, atravessamos todo o oceano, mas é quando regressamos a casa que podemos descobrir que aquilo que procurávamos, na verdade, reside no nosso interior" (Erling Kagge). Descobre-o.
Vamos poluir ou limpar o mundo?
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