No meio da guerra sem tréguas pelo nosso polegar oponível, os maiores conglomerados do audiovisual europeu tentam reorganizar-se. E Portugal? Zero. Permanecemos orgulhosos de uma monocultura – a telenovela – própria das Honduras ou do Paquistão
vinte anos depois, a idade dourada da televisão chegou ao clímax. Desde a estreia na HBO do episódio-piloto de Os Sopranos a 10 de Janeiro de 1999, a TV linear fez os (im)possíveis para escapar à campa no cemitério que lhe está destinada. Os canais por cabo pagos prosperavam, até que também estes receberam a última bênção com a chegada do diabo vermelho, a Netflix, em 2013. 158 milhões de subscritores (em 190 países) depois, a Netflix em particular e a televisão OTT em geral – OTT é a distribuição de programas e ficções pela Internet – conquistaram a maioria dos espectadores/criadores de grelhas individuais online do mundo inteiro (em Portugal são 40% do público jovem, mas a percentagem sobe todos os meses).
Entre a semana passada e a próxima, estreiam-se dois novos players – a Apple TV+ e a Disney+ – do jogo mais lucrativo da era moderna: os "conteúdos". Em poucos meses, a Apple TV+ chegará a dezenas de milhões de subscritores (os bolsos da empresa-mãe não têm fundo e qualquer comprador de um iPhone ou de um tablet da marca terá direito a um ano grátis do serviço). A Disney+ tem um catálogo colossal e os direitos perpétuos dos universos Marvel e Star Wars. Num futuro pouco distante, os canais de TV canónicos servirão apenas para a informação diária e para os directos de acontecimentos desportivos. Nada mais. No resto, os números são de um gigantismo estarrecedor.
O orçamento de ficção da Netflix para este ano foi de 13,5 mil milhões de euros – ou 7% do PIB português. As cinco temporadas da nova adaptação de O Senhor dos Anéis vão custar 902 milhões de euros à Amazon Prime Video (só os direitos custaram 225 milhões). Em 2020, os titãs das telecomunicações AT&T, proprietário da HBO e da WarnerMedia, e Comcast (detentor da NBC e dos estúdios Universal) irão lançar os seus próprios serviços de streaming, a HBO Max e a Peacock.