
"Hoje estou como o tempo, nem sei explicar", ou ainda "de dia ando bem...agora à noite...ninguém me atura, nem eu mesma..."
Com muita frequência ouvimos no dia a dia este tipo de afirmações.
Sim, há evidências científicas que reforçam a relação entre a luz solar e o estado de humor.
O Sistema Nervoso e o Sistema Endócrino são os grandes responsáveis pela função de controle do organismo. O nosso corpo, especificamente a retina do olho humano, é um fotorrecetor e por isso há necessariamente uma resposta a um aumento ou diminuição da luz natural. Outro grande órgão recetor, é a pele que produz Vitamina D quando existe exposição à luz solar. Na redução desta última e consequentemente, da Vitamina D, parecem existir interferências com a produção regulada de neurotransmissores associados ao humor.
Sabe-se que a melatonina é o grande responsável pela organização das alterações corporais em reposta aos dias mais curtos. Para além deste, a luz reduzida pode também diminuir os níveis de serotonina o nosso neuromodelador mediador do humor e também envolvida nos processos sono-vigília.
O relo´gio biolo´gico humano esta´ preparado e sincronizado para uma adaptação a`s mudanc¸as dia´rias de luz e ao longo das estações do ano. Para a maioria das pessoas é um processo perfeitamente natural. Contudo, para outras pessoas este processo é altamente penoso quando surge a combinação entre menor disponibilidade de serotonina e maiores níveis de melatonina, e que vão afetar diretamente o humor apetite, atenção, sono e energia. Para alem destes dois neurotransmissores, outros tantos como a dopamina, cortisol e ocitocina podem estar sujeitos a oscilações no fotoperíodo.
De facto existem evidências cientificas que dão suporte a esta ideia de que as condições climatéricas e as estações do ano têm influência no nosso bem estar e ocorre tipicamente no Outono- Inverno e aparenta haver uma remissão na altura da Primavera e Verão.
Ao longo da história encontramos referencias à relação entre o carácter cíclico de fenómenos naturais e o ser humano. Alguns exemplos são o de Hipo´crates que afirmava que «aquele que deseja estudar seriamente a Medicina, deve primeiro observar o desenrolar das estac¸o~es». Também Arateus recomendava que «os leta´rgicos, que se deitem em plena luz expostos aos raios de sol, pois a escurida~o leva a` doenc¸a».
Tal como a Natureza tem flutuações rítmicas, no ciclo dia/noite, a migração das aves, as estações do ano, os ciclos da lua, as marés; também o Homem se organiza de forma rítmica, no sono-vigília, a temperatura corporal, o ritmo cardíaco, respiratório, menstrual, etc. Ritmos estes que têm influencia na forma como expressamos os nossos pensamentos, emoções e comportamentos.
Um dos quadros clínicos característico pela sua vulnerabilidade à diminuição da luz solar, é a Depressão Afetiva Sazonal, trata-se de uma doença multifatorial, com implicações neurobiológicas e psicoemocionais, que parece afetar ambos os sexos e idades, mas com maior frequência no sexo feminino e em idades entre os 20 e os 35 anos .
Com a alteração de estação e a menor exposição à luz solar, podem surgir os seguintes sinais de alerta: alterações de humor repentinas, fadiga, isolamento social, diminuição do desejo sexual, aumento do apetite e adotar um padrão alimentar menos saudável, irritabilidade, apatia, pode piorar a tensão menstrual, alterações no padrão do sono e períodos frequentes de tristeza.
A procura de especialistas na área da saúde mental, sejam psicólogos, médicos psiquiatras, psicoterapeutas, enfermeiros ou outros técnicos qualificados para o efeito, é crucial para uma avaliação e intervenção adequada.
As pessoas que sofrem de sintomatologia depressiva sofrem sozinhos, internalizam a dor, isolam-se, referem com frequência "não quero incomodar ninguém" ou "tenho vergonha de me sentir assim" e quanto mais severa for a condição clínica maior será a resistência ao pedido de ajuda e a adesão terapêutica.
O suporte social, o cônjuge, os vizinhos, familiares significativos, são muitas vezes os impulsionadores nesta motivação de procura do pedido de ajuda.
Temos todos a responsabilidade de estarmos conscientes e sinalizarmos a situação precocemente.
Diariamente recebo clientes que se sentem perdidos e incompreendidos, referem frases como " ninguém me compreende", " oiço dizerem-me que tenho é tempo livre a mais", "os meus familiares dizem que tenho é de ser positiva", "o meu marido diz que estou assim porque quero", " colegas de trabalho que dizem que são manias da minha cabeça". Recordo que apesar de estarem e se sentirem doentes, estão conscientes, percebem que algo mudou e sentem-se com poucos recursos, pouca energia para se libertarem da dor, do vazio, da apatia, da falta de energia e do cansaço.
Existem diferentes abordagens terapêuticas que podem e devem ser combinadas, podendo incluir intervenção da psicofarmacologia, psicoterapia, fototerapia, alimentação com dieta adaptada, e prática de exercício físico regular. No caso de clientes que já conhecem o seu diagnóstico podem sempre que possível iniciar a intervenção previamente à transição para a estação do ano que mais lhes exponencia a sintomatologia depressiva.
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