
Durante os últimos quatro anos fui intransigente na denúncia, na exigência e no confronto. Não me refugiei em silêncios cúmplices e repeti, vezes sem conta, que vivíamos tempo particularmente difíceis no Serviço Nacional de Saúde. Ninguém me pode acusar de ter varrido o lixo para debaixo do tapete. Foi público o meu confronto com a actual Ministra da Saúde. São notórias, e continuarão a ser, as nossas divergências. Discordamos no diagnóstico e na visão que temos para o futuro do sector.
A verdade é que a vida faz-se de tempos de combate e horas de trégua. A pandemia do Covid-19 não me faz esquecer as debilidades que denunciei. Sim, faltam enfermeiros no SNS. Sim, falta investimento, organização e motivação. É verdade que temos estruturas antigas e a precisar de urgente modernização. Não fizemos o suficiente nos últimos anos para cuidar do SNS, mas é ele que nos vai salvar. Serão os profissionais de saúde que ajudarão o país a sair desta situação complexa e ainda desconhecida em que o mundo mergulhou. Serão os nossos enfermeiros, médicos, técnicos e auxiliares. Serão os nossos hospitais.
É hora de confiar em quem cuida de nós. Temos dos melhores enfermeiros do mundo. Gente altamente capacitada, profissional, altruísta, apaixonada pelo que faz e pela noção de serviço público. Portugal sabe que pode confiar nos enfermeiros porque se recorda de quem nunca lhe falhou nos tempos difíceis. É hora de acreditar em que sabe, respeitar todas as recomendações da DGS e manter a calma. Se há profissionais de saúde altamente treinados, habituados a trabalhar no limite, com meios escassos e em condições particularmente difíceis, esses profissionais são aqueles que todos os dias dão cara pelo SNS.
Foi por um imperativo de consciência que nunca calei a minha revolta perante as fragilidades do sistema, mas quando me perguntam se o nosso SNS está preparado para lidar com esta pandemia, prefiro perguntar: Algum está? Não contem comigo para fazer política com a vida das pessoas. Há um tempo para gritar e outro para confiar. Quando tudo passar, contem comigo para voltar à denúncia e ao confronto. Até lá, peço-vos que confiem. Não há outra alternativa. Não há melhor vacina contra o medo.
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