
Definam linha da frente. Confesso que estou há algum tempo a tentar encontrar uma boa definição e não consigo. Estamos mal quando a forma que o Governo encontrou para valorizar os profissionais de saúde passa por um subsídio de risco, extraordinário, limitado no tempo, para apenas uma parte do pelotão que tem assegurado os cuidados de saúde aos portugueses.
Não sei, nem me interessa, de quem é esta reivindicação. Se é para dar um cunho de esquerda ao Orçamento do Estado, falhou. O que temos é um subsídio de injustiça, um mecanismo que em vez de unir, vai dividir as classes e as equipas. Quem acredita que existe uma linha da frente é porque assume que existe uma segunda linha, ou uma linha de trás. Errado. Quem acredita que é assim que funciona o sistema de saúde, ainda mais em altura de pandemia, é porque nunca esteve em linha alguma. Simplesmente não sabe como as coisas se passam nos hospitais, nos centros de saúde, nos lares, na emergência médica, enfim, na Saúde em Portugal.
Em vez de subsídio de risco em modo "esmola", os profissionais de saúde precisam de reconhecimento real, constante, traduzido em carreiras justas e salários dignos. Se querem falar de risco, falaremos então do necessário reconhecimento da enfermagem enquanto profissão de desgaste rápido. Não era preciso esperar por este momento para tomar as decisões que já deviam ter sido tomadas. O pior é que continuo com dúvidas que possamos avançar naquilo que é verdadeiramente decisivo. Temos de avançar na antecipação da idade da reforma para os enfermeiros, abrir concursos para os enfermeiros especialistas e assegurar a contagem dos pontos para a progressão na carreira. Continuar a ter 80% dos enfermeiros a salvar vidas, a correr riscos e sacrificar as suas vidas por menos de 1.000 euros líquidos é uma vergonha nacional, uma indignidade.
Não faz sentido insistir na ideia de tapar o sol com a peneira. O dito subsídio de risco para dita linha da frente da covid-19 não resolve problema algum. É uma manobra de propaganda que não ajuda a resolver os verdadeiros problemas dos profissionais de saúde. Precisamos de respostas estruturais e não de pensos rápidos. Os enfermeiros estão esgotados, desmotivados e sem esperança. Estão cansados de promessas, de esmolas e adiamentos. Não contem comigo para fazer de conta que não os oiço e para não estar, como prometi, inequivocamente ao seu lado.
Se querem a ajuda dos enfermeiros por contratos de 4 meses, vão para lá eles.
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