
Precisamos de ser mais claros e coerentes naquilo que dizemos às pessoas. Se houve coisa que falhou desde o desconfinamento foi termos deixado crescer na opinião pública, por culpa das autoridades de saúde e do poder político, a ideia de que há sempre dois pesos e duas medidas. As pessoas barricaram-se nas suas trincheiras ideológicas para defenderem para si próprias a liberdade que limitam aos outros. É neste clima que temos vivido e que descredibiliza a comunicação em saúde, por um lado, e compromete as acções futuras, por outro. Faz lembrar a história do Pedro e do Lobo. Vêm ai tempos muito complicados e precisamos que o País ouça e acredite naquilo que quem lidera tem para dizer.
O inverno está a chegar. O plano de ataque definido pelo Governo está, em traços gerais, bem desenhado. Destaco, por exemplo, a importância do reforço da testagem para os profissionais de saúde, uma exigência antiga da Ordem dos Enfermeiros. O problema deste plano não são as acções que estabelece, ou os compromissos que assume, a grande dúvida prende-se sobre se teremos, ou não, a capacidade para colocá-lo no terreno. O reforço previsto para a prestação de cuidados primários é, em termos teóricos, uma boa estratégia para atacar, numa primeira linha, os tempos em que vamos ter, sem sermos capazes de distinguir, facilmente, doentes covid e doentes com gripe. Sim, é este o grande drama do amanhã.
Até aqui, estamos todos de acordo. O problema surge quando olhamos com detalhe para a rede dos cuidados primários ou, simplesmente, quando experimentamos – como tive a oportunidade de experimentar na última semana – passar por um centro de saúde. Aconteceu-me na minha freguesia. Num dia de sol, dezenas de idosos, em fila, à espera para poderem entrar no centro de saúde. Dir-me-ão que são as limitações impostas pelo combate à Covid-19. Certo. Mas é preciso parar e pensar sobre este cenário . Aconteça o que acontecer, isto não se pode repetir no inverno. Não podemos abandonar dezenas de idosos à porta de um centro de saúde, à chuva e ao frio. Temos de acautelar, desde já, este tipo de situações práticas que fazem a vida de quem está no terreno a cuidar.
É aqui que surgem as minhas dúvidas. O plano apresentado pelo Governo é ambicioso e cuidadoso, mas temo que as limitações históricas do nosso SNS não permitam que seja operacionalizado com a extensão que merece.
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