Centenas de documentos – mais de 700 páginas - pertencentes às secretas iranianas demonstram a tentativa iraniana de influenciar o poder no Iraque e como nos últimos 20 anos. Os documentos foram entregues pelo The Intercept e partilhados com o jornal norte-americano The New York Times. Os documentos detalham como Teerão tem tentado influenciar as decisões iraquianas colocando no poder pessoas da sua confiança, subornando espiões para mudarem de lado e como os iranianos conseguiram infiltrar-se em quase todos os aspetos da vida política, económica e religiosa iraquiana.
Os documentos de 2014 e 2015 citados pelo jornal revelam que muito das ações se assemelha às presentes nos livros e filmes de espiões, com encontros em becos escuros para troca de documentos, agentes a fotografar soldados americanos e espiões que nunca fazem o mesmo caminho para evitar serem seguidos.
Os documentos que foram escritos na sua maioria por oficiais do Ministério da Inteligência e Segurança do Irão levantam até dúvidas sobre a relação que o atual primeiro-ministro iraquiano pode ter com os iranianos. Uma das mensagens refere que Adil Abdul Mahdi tinha uma "relação especial com a República Islâmica do Irão". Não se sabe o que teria de especial esta relação, mas a verdade é que Mahdi foi um primeiro-ministro aceite tanto pelo Irão como pelos EUA.
A influência está de tal forma disseminada que um assessor do governo iraniano a atuar no Iraque escreveu num memorando: "Temos um número razoável de aliados entre os líderes iraquianos nos quais podemos confiar até de olhos fechados". E para esse controlo contribuem os pagamentos que são detalhados nos memorandos a que o The Intercept teve acesso e que incluem ofertas de açafrão (a especearia mais cara do mundo), pistáchios e dinheiro.
Desde 2003 e da guerra do Iraque que o Irão começou a solidificar a sua influência dentro daquele território. Mas os documentos não ilibam os EUA que têm também usado o Iraque como um posto de estratégico no Médio Oriente.
Mas explica o NYT que por cada passo dado pelos EUA para ganhar controlo no Iraque, o Irão dá um passo ainda maior e aumenta ainda mais a sua influência, estando sempre mais avançado do que os americanos. E para estarem um passo à frente foram essenciais os informadores da C.I.A. que foram subornados pelo Iraque. Há até relatos de um telegrama que refere uma tentativa dos iranianos colocarem um espião na administração norte-americana. Embora não identificado por nome, esta pessoa seria alguém capaz de fornecer "informações sobre os planos do governo dos EUA para o Iraque".
Estes documentos mostram ainda que é prática comum a troca de presentes para os altos decisores da nação, incluindo militares. Hassan Danaiefar, o embaixador iraniano no Iraque entre 2010 e 2017 confirmou ao NYT: "Sim, temos muita informação sobre o Iraque em vários campos, principalmente sobre o que os EUA estavam a fazer lá".
Os documentos foram cedidos ao The Intercept por uma fonte anónima que esclareceu que queria que "o mundo soubesse o que o mundo estava a fazer com o Iraque", o seu país.
O grosso dos documentos mostra uma intenção de impedir que o Iraque caia nas mãos do norte-americanos ou impedir a escalada da violência contra os xiitas. Há também preocupação em retirar o autoproclamado Estado Islâmico do Iraque, mas ao mesmo tempo garantindo que este país é mantido como um cliente de Teerão.
Mas nem todos os documentos contêm informação sensível. Muitas vezes os resultados são até cómicos. Há um documento que revela que um engano levou oficiais iranianos a entrarem num instituto e descobrirem que tinham os códigos dos cofres errados, ou então quando agentes foram criticados por serem preguiçosos e não procurarem confirmar informação que recebiam através das notícias.
Revelam ainda os documentos que depois dos EUA terem diminuído a sua influência no Iraque, muitos espiões começaram a mudar de lado e a oferecer informação a Teerão em troca de dinheiro. Um dos espiões, identificados pela CIA como "Donnie Brasco" e pelo Irão como "Fonte 134992" terá vendido informação sobre a localização das casas seguras dos agentes da CIA, os hotéis onde estes costumavam ficar alojados e ainda detalhes sobre o seu armamento e treinos.
Os documentos revelam que o homem jurou pelo Corão que não voltaria a espiar pelos EUA e que terá entregado todos os vídeos, fotografias e restante material que possuía sobre a CIA.
Segredos mas não secretos
A influência do Irão no Iraque não é secreta. Apenas não se sabia que podia ser tão grande.
Ao caminhar nas ruas do sul iraquiano é possível ver inúmeros cartazes com a cara do aiatola Ruhollah Khomeini (líder iraniano) nas ruas, lembra o The New York Times. Também os partidos daquela região são muitas vezes apoiados por iranianos e os jovens promissores são recrutados para estudarem no país vizinho, enviando Teerão trabalhadores para ajudar na reconstrução daquele país.
Estes documentos surgem poucas semanas da conclusão dos relatórios do Exército dos EUA sobre a invasão do Iraque: "O único vencedor aparenta ser o empoderado e expansionista Irão".
O Presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou em 2018 que os EUA abandonavam o acordo nuclear com o Irão e iniciou um duro plano de sanções, pelo desrespeito pelas regras do tratado por parte de Teerão. Nos últimos meses, ocorreu uma escalada de tensão no Golfo, com ataques mútuos entre forças iranianas e as tropas norte-americanas na região, que foram reforçadas desde o início do ano com o envio de um porta-aviões.
Com o passar dos anos, o Irão tem encontrado maiores dificuldades em influenciar a vida iraquiana, mas mesmo assim, o povo outrora governado por Saddam Hussein tem receio de se insurgir contra Teerão, por temer uma retaliação. As manifestações que se têm verificado no Iraque mostram um descontentamento do povo que protesta contra a corrupção do Governo, a falta de serviços e o desemprego. Não há protestos contra a insurgência do Irão ou dos EUA.
Para poder adicionar esta notícia deverá efectuar login.
Caso não esteja registado no site da SÁBADO, efectue o seu registo gratuito.
Tufão nas Filipinas provoca 11 mortos e 500 desalojados
Rússia e China abrem gasoduto entre os dois países
Milhares de pessoas retiradas nas Filipinas devido a tufão
Eleições Hong Kong: candidatos pró-democracia à frente
Marketing Automation certified by E-GOI
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados. É expressamente proibida a reprodução na totalidade ou em parte, em qualquer tipo de suporte, sem prévia permissão por escrito da Cofina Media S.A.
Consulte a Política de Privacidade Cofina.