Com a brisa do fim de tarde, quase parecia que o calor ia abrandar. Mas não. O vento parou completamente e a noite foi quente, quase infernal, daquelas raras no Parque das Nações. Mas o público ia avisado: nunca se viu tantos ombros e pernas ao leu num festival lisboeta. E até o baixista peludo de Mac DeMarco actuou de vestidinho vaporoso, talvez para potenciar o efeito cómico, mas decerto também para estar mais arejado.


A indumentária combinou na perfeição com o concerto bem humorado, a incluir risadas de bruxa, traseiros espetados e açoites, solo de guitarra atrás das costas, um "Parabéns" em uníssono para Kiera McNally, a namorada de Mac, que ele disse fazer anos no dia seguinte, e alusões à praia e a uma "super-pila".

Competente e mais rockeiro do que em disco, o autor de Another One foi, portanto, o palhaço da noite, chegando ao palco EDP quando o Super Bock, na MEO Arena, ainda vibrava com Iggy Pop, que aos 69 anos se mantém a mesma máquina imparável de rock, a entrar em cena já muito acelerado, como de costume em tronco nu, seco e com as habituais veias salientes, ainda em forma, apesar das rugas e da perna manca.


Não fosse o concerto interventivo dos Massive Attack com os Young Fathers, que fecharam esse mesmo palco, e teria ficado como o herói da noite: conquistou o pavilhão cheio à segunda canção, I Wanna Be Your Dog, seguindo sem parar para Passenger e Lust For Life e descendo do palco, em total descarga de adrenalina para se aproximar dos fãs (alguns a "nadar" no mar de gente) enquanto visitava Real Wild Chid (Wild Ones). Pouco cantou do recente Post-Pop Depression e o público agradeceu: nitidamente foi para ouvir e dançar os clássicos que lá foi.


E deu por bem empregue o dinheiro, até porque já antes por ali tinham passado os Bloc Party, com um jogo de luzes incrível e um alinhamento a percorrer estilos musicais em série. O vocalista, Kele Okereke (um bocado para o anafado mas com a voz impecável), bem que avisava: "Agora, uma coisa bem diferente." E surpreendia: One More Chance, por exemplo, ganhou novos contornos pop, que não lhe ficaram nada mal.

Mais tarde, os Capitão Fausto, no palco Antena 3, e Rhye, no EDP, conseguiram audiências de respeito, apesar da fortíssima concorrência, e cumpriram, mas foram os Massive Attack, com o seu espectáculo visual cuidado e a mensagem política vincada (anti-terrorismo e anti-globalização, a incluir textos em português e homenagem às vítimas do ataque da véspera, em Nice) que levaram o festival ao rubro, com um concerto nada óbvio, que incluiu alguns clássicos da banda, entre eles Inertia Creeps, Safe From Harm e, já no encore, Unfinished Sympathy, mas também tirou partido da companhia fresca que os acompanhou: os Young Fathers, de vozes impressionantes e um estilo tribal contagiante.

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