Um Lugar Chamado Angola, um romance de Karla Suárez

01.03.2017 10:55 por Ângela Marques 0

Karla Suárez escreve um romance sobre a participação cubana no conflito angolano e dá a Ernesto a voz de uma geração que ficou órfã de pai

Ernesto tinha 12 anos quando viu o pai ir para a guerra. Tinha os mesmos 12 anos quando soube da sua morte. "Mataram o meu pai numa tarde com muito sol, embora não o tenhamos sabido nesse momento. Ele estava do outro lado do mundo, na selva escura de Angola. E nós na ilha, onde a vida continuava mais ou menos como de costume, sob o nosso sol quotidiano." Um Lugar Chamado Angola começa assim, com uma vida a acabar e a História a acontecer como uma rajada na vida de um miúdo de 12 anos. Fazendo a narrativa viajar entre Cuba, Angola e Portugal, a autora, Karla Suárez, põe o seu protagonista à procura de uma versão da História que lhe amanse as dúvidas. É que em Angola, diz-nos este livro a princípio, só morreram heróis.

Para Ernesto - Ernestico na boca do pai -, esta morte não traz só a responsabilidade machista de se transformar no homem da casa mas uma bagagem de respeito: passará a ser o filho de um herói. Na escola será elogiado e dado como exemplo, na vida sentir-se-á perdido.

Quando Karla Suárez nos apresenta o seu Ernesto (que se chama assim para homenagear Che Guevara) ele tem mais 30 anos e uma obsessão: descobrir tudo sobre o tempo que o pai passou na guerra. Será nessa altura que começará a pôr em causa a versão da história da participação cubana na guerra civil de Angola que lhe foi contada toda a vida.

Um Lugar Chamado Angola é o quarto livro publicado por Karla Suárez em Portugal, depois de Havana Ano Zero (Prix Carbet de la Caraïbe e Grand Prix du Livre Insulaire, em França), A Viajante e Os Rostos do Silêncio (Prémio ao Primeiro Romance, em Espanha). Aos 46 anos, a escritora viu já vários dos seus contos adaptados para televisão em Cuba e um livro, Os Rostos do Silêncio, adaptado para teatro em França. Em 2007, foi considerada um dos 39 mais importantes autores da nova literatura latino-americana.

Em Lisboa, onde vive actualmente, é coordenadora do clube de leitura do Instituto Cervantes de Lisboa. Apresentou Um Lugar Chamado Angola a 23 de Fevereiro, no festival literário Correntes d'Escritas, na Póvoa de Varzim.