Colocando Hello - o banal vídeo para a banal canção de Adele - de parte, não será ousadia escrever que Xavier Dolan, o jovem prodígio canadiano que realizou o seu primeiro filme com 20 anos, nunca deixa ninguém indiferente. Dá para gostar muito e também para detestar.

Mas a convicção emocional dos seus filmes, a coragem e o despudor de abraçar todos os momentos melodramáticos das constantes crises familiares que retrata transformaram Dolan numa voz que se destaca num cinema que se foi tornando mais cínico e até clínico.

Imaginando que as emoções têm um volume máximo de 10, nos seus filmes as personagens estão sempre em 11. Tão Só o Fim do Mundo mantém todas essas características: Louis é um jovem dramaturgo em fase terminal que regressa a casa para informar a família que a sua vida está a chegar ao fim.

Dolan filma quase sempre em grande plano, o que lhe permite optimizar o seu belo e ilustre elenco (com destaque para Vincent Cassel, mas todos os restantes, onde também estão incluídos Nathalie Baye e Léa Seydoux, aguentam o intenso olhar da câmara) e criar uma sensação de claustrofobia ruidosa.

É uma opressão emocional intencional traída por um texto que nunca se consegue destacar de tantos outros dramas familiares - Um Quente Agosto, de Tracy Letts, por exemplo. Considerando que é a primeira vez que Dolan não trabalha com o seu próprio texto, adaptando uma peça de Jean-Luc Lagarce, talvez esteja aí a explicação para que a sua voz, mesmo se semelhante ao que ouvimos antes, pareça aqui diluída, mais geral e menos particular. Tal qual como uma canção da Adele.

Crítica de Tiago R. Santos
Nota: 3 estrelas

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De Xavier Dolan
FRA || Drama || M14 || 87 m
Com Gaspard Ulliel, Vincent
Cassel e Marion Cotillard

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