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O filme narra um momento decisivo na vida do The Washington Post. Ao GPS, Liz Hannah conta como passou de quase desistir de escrever filmes a ter um argumento realizado por Spielberg.
Ao querer contar a história de Katharine Graham, a proprietária do The Washington Post que autorizou a publicação no seu jornal, contra a vontade de Nixon, de documentos secretos sobre a guerra do Vietname (o chamado caso Pentagon Papers), a argumentista Liz Hannah acabou por encontrar a sua voz e o seu lugar na indústria cinematográfica, como conta ao GPS numa entrevista exclusiva.
Realizado por Steven Spielberg e com Meryl Streep e Tom Hanks nos principais papéis, The Post chega aos cinemas portugueses esta quinta-feira, 25 de Janeiro, e já valeu a Liz Hannah, que com 32 anos nunca tinha visto um argumento seu chegar ao grande ecrã, e ao seu co-autor Josh Singer (também co-argumentista de O Caso Spotlight), uma nomeação nos Globos de Ouro e nos BAFTA e um prémio do Writers Guild of America. The Spot está nomeado para o Óscar de Melhor Filme e de Melhor Actriz.
Qual foi a sensação de ver Meryl Streep e Tom Hanks serem dirigidos por Steven Spielberg no seu primeiro argumento a ver a luz do dia?
Ver dois dos melhores - senão os melhores - actores da sua geração representarem personagens que eu escrevi foi surreal. Cresci a ver os filmes do Spielberg. Os Salteadores da Arca Perdida é o filme que me fez querer fazer filmes. Quando escrevia tentava usar muitas das coisas que ele punha nos seus filmes, como o seu sentido de comédia ou a maneira como as suas personagens são sempre muito humanas. O Indiana Jones é praticamente um super-herói, mas ele parece-se com alguém que encontrámos uma vez num bar. Nunca pensei ter a oportunidade de falar com ele sobre cinema... E depois ele realizou o meu filme [risos].
Houve alguma coisa em particular que a tenha surpreendido sobre Spielberg?
Ele é quem mais se diverte durante as filmagens! Todas as manhãs aparecia com um plano do que íamos filmar, mas depois repararia em algo, como a performance de uma actriz, um adereço ou até mesmo uma fala do guião e de repente tudo mudava. Só lhe interessa contar a história da melhor maneira possível, o que de certa forma dissipou um pouco este manto de mistério à volta dele. Quer dizer, ele é um génio, mas não é que tenha um talento sobrenatural. O que ele faz é pôr-se no lugar do público, tentando perceber o que é que ele, enquanto espectador, quereria ver.
Em que fase entrou Josh Singer [co-autor de O Caso Spotlight] e qual foi o seu contributo?
Ele entrou algumas semanas depois do Steven, do Tom e da Meryl. Tínhamos menos de 10 semanas para começar a filmar. Eu nunca tinha escrito um filme que fosse produzido, quanto mais um realizado pelo Spielberg e com um dos melhores elencos de todos os tempos [entram ainda Bob Odenkirk, Alison Brie e Sarah Paulson]. Por isso precisava de alguma ajuda, não só por causa do pouco tempo que tínhamos, mas também porque muitas portas se abriram a partir do momento em que o Steven chegou ao projecto. De repente tínhamos acesso à família Graham, a pessoas do The Washington Post que conheciam a Kay [Katharine Graham] e o Ben [Bradlee, o histórico jornalista e então director do jornal]. Conseguíamos de repente dar um grau de autenticidade a este guião que eu não conseguia atingir quando escrevia sentada na minha cozinha. O Josh trouxe também muita experiência de produção.
Como foi o seu percurso até chegar aqui?
Sempre escrevi, mas como achava que havia outras pessoas melhores do que eu, a ideia de seguir esse caminho e de me sustentar a escrever assustava-me, por isso fui para o American Film Institute estudar produção. Depois do curso fui trabalhar para uma produtora.
O que fazia por lá?
Fazia development, o que basicamente significa que todos os dias lia guiões e participava em reuniões com realizadores, produtores e actores. Adorava esse aspecto colaborativo, de desenvolver um filme e de perceber o que faz de uma boa história um bom filme. Só que queria ser a pessoa que escrevia o argumento e não a que o comentava. Por isso, a certa altura, escrevi um guião para uma longa-metragem, só para experimentar, e dei-o a ler ao meu patrão (que conhecia há imenso tempo e que agora gere a minha carreira) e disse-lhe: "Se isto for alguma coisa de jeito, avisa-me e eu despeço-me. Se for terrível, continuarei por cá, contente enquanto produtora." Ele disse-me para me despedir.
Quando foi isso?
Em 2012. Depois passei quatro anos a escrever. Desenvolvi episódios-piloto e escrevi alguns guiões que chegaram a algumas pessoas, mas não tinha escrito nada que, primeiro, sentisse que tivesse a minha voz, que eu pensasse que fosse exactamente o que queria dizer e da melhor maneira que o pudesse dizer, e, segundo, sentia que não eram realmente histórias que eu queria contar. Quando a Primavera de 2016 chegou, eu estava pronta para desistir. Não estava a ganhar dinheiro, não estava a criar os produtos que queria e pensei: "Vou voltar à produção, serei criativa dessa maneira e estará tudo bem. Eu tentara, mas não tinha conseguido."
Qual foi o ponto de viragem?
Foi quando o meu então namorado, e agora marido, me disse: "Andas a falar desse guião da Katharine Graham há cinco anos, porque não tentas escrevê-lo?" Era verdade. Eu apaixonei-me pela história dela quando li a autobiografia [Personal History], com 20 e poucos anos. Pensava que as pessoas deviam conhecer esta mulher e que a sua vida daria um bom filme. Enquanto estava a tentar safar-me como argumentista ia pesquisando sobre ela e também sobre o Ben Bradlee. Foi quando li o livro de memórias dele [A Good Life: Newspapering and Other Adventures] que percebi que o filme seria também sobre a relação de amizade, cumplicidade e camaradagem entre eles.
Em concreto, o que a atraiu na história de Kay?
Durante uma boa parte da vida ela foi uma mulher a quem diziam que não era suficientemente boa, inteligente ou bonita. Depois, subitamente, teve de ignorar todas essas vozes - as das pessoas à sua volta e as da sua cabeça - e estar à altura das circunstâncias. O momento em que isso aconteceu foi quando os Pentagon Papers foram publicados. Tudo se resume a eu querer contar a história de uma mulher à procura da sua voz, que era algo com que me conseguia relacionar. A estrutura do filme esteve sempre na minha cabeça, só não tinha coragem de o escrever. No Verão de 2016 fiquei sem desculpas - não é que tivesse outro emprego... - e lá me sentei a escrevê-lo.
Que expectativas tinha quando terminou?
Uma das coisas de que mais me orgulho é que este era um tema que realmente me interessava. Não tinha expectativas de que o filme viesse a ser realizado por Spielberg e protagonizado por Meryl Streep e Tom Hanks. A minha única expectativa era escrever um bom guião e fazer justiça à história da Kay, e acho que o consegui.
Mas não escreveu o argumento para o deixar na gaveta...
Pensava que, com sorte, o argumento me ajudasse a conseguir um agente, porque ninguém sabia quem eu era. Por isso tinha esperança de que este argumento mostrasse a minha voz e aquilo que eu era capaz de fazer enquanto escritora.
Que caminho percorreu o argumento até chegar às mãos de Steven Spielberg?
Eu conhecia várias pessoas na produtora The Star Thrower e estava sempre a dizer-lhes que um dia ia escrever este argumento e que esperava que o produzissem. Falei nisso durante tanto tempo que provavelmente pensavam que isso nunca iria acontecer... Mas no Dia do Trabalhador [a primeira segunda-feira de Setembro, nos Estados Unidos - dia 5, em 2016] enviei-lhes o argumento. Trabalhámos durante um mês para tentar acertar no tom de voz da Kay, porque a queríamos vulnerável mas não fraca, e em Outubro a produtora enviou a alguns agentes o argumento, que começou a ser lido, a ser apreciado e foi passando de mão em mão, de tal modo que, na sexta-feira antes do Halloween [31 de Outubro], já tinha chegado a todos os grandes estúdios e produtoras.
Leia a entrevista completa na edição da revista SÁBADO que nas bancas desde quinta-feira, 25 de Janeiro.