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O dia em que Zeca Afonso precisou de Quim Barreiros

16.02.2017 08:00 por Gonçalo Correia 17

No mês em que se assinalam os 30 anos da morte de José Afonso, fomos ouvir o seu camarada mais improvável, Quim Barreiros, que participou num disco do cantautor

Maio de 1976. José Afonso - ou Zeca, para os amigos, figura de referência da música portuguesa, que morreu há 30 anos, a 23 de Fevereiro de 1987 - já tinha colaborado com muita gente ilustre - José Mário Branco e Fausto Bordalo Dias à cabeça - quando decidiu convocar para o seu álbum de 1976, Com as Minhas Tamanquinhas, um novo parceiro, bem mais inusitado: um jovem de 28 anos chamado Quim Barreiros.

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Os dois anos anteriores, 1974 (o da Revolução) e 1975, tinham sido atribulados - a ponto de Zeca ter estado mais de um ano sem editar qualquer álbum, coisa que não acontecia desde 1968. Em 1976, porém, o clima já era mais propício, algo como "depois da festa, menina" - como o próprio o descreveu, citado na tese de doutoramento do austríaco Elfriede Engelmayer, mais tarde repescada por Irene Flunser Pimentel, na biografia do cantor e compositor (editora Temas e Debates) - e que imortalizou no álbum que marcou o início da sua colaboração com Júlio Pereira, o disco em que Zeca regressou aos estúdios nacionais (depois de gravar em Londres e Paris).

Porém, para registar temas como Os Índios da Meia Praia, Como se Faz um Canalha e Os Fantoches de Kissinger, o cantor precisava de uma intervenção especial: a de... Quim Barreiros. "O Zeca não estava a gostar do que estava a fazer em duas músicas", recorda agora o autor de A Garagem da Vizinha ao GPS, por telefone, a partir do Brasil: "Então, lembrou-se: epá, só há um gajo que pode desenrascar isto. Quem? O Quim Barreiros!" Os dois já se conheciam: trabalhavam ambos com Arnaldo Trindade, responsável pela editora Orfeu, por onde passaram muitos dos músicos portugueses desse tempo. "Estavam lá todos os baladeiros - o Adriano [Correia de Oliveira], o Zeca, o Fausto, o Vitorino, o José Jorge Letria, o Zé Cid, o Paulo de Carvalho, o José Calvário… a cambada toda", recorda o acordeonista.

No meio deste grupo - ao qual Quim Barreiros também estava ligado - "nascia uma determinada amizade, porque aquilo era uma família; encontrávamo-nos muitas vezes, conversávamos e íamos almoçar a uma tasquinha ali ao lado dos estúdios da editora em Lisboa, na Rua de Campolide", lembra ainda o cantor popular.

Conheça os pormenores das gravações, saiba que homenagens que vão ser feitas a Zeca nos próximos dias (de Norte a Sul do País) e leia ainda outros temas na edição n.º 103 do GPS, nas bancas com a SÁBADO a partir de 16 de Fevereiro.