Os três cães - incluindo a rafeira Margarida - faziam corridas. No jardim da casa de campo que partilha com a cantora, compositora e defensora dos animais Cathy Davey, Neil Hannon empunhava um sorriso pronto, como quem se prepara para dar uma longa entrevista e até - quem sabe - terminar a conversa com uma cerveja ou um G&T.

Caminharíamos pelo jardim durante horas, lembrando os anos 90, quando, já estrela pop sequestrada por escalas em aeroportos, dizia que a felicidade era isto: poder viver no campo. Em Kildare, a 50 quilómetros de Dublin, perguntas e respostas seriam como as canções de Foreverland: épicas. Só que a vida não é sempre um disco de Divine Comedy - e a nossa conversa aconteceria pelo telefone.

Com cara de miúdo (tão miúdo que antes dos 20 teve dificuldade em beber uma cerveja num bar sem passar por algum embaraço), Neil Hannon é conhecido por ser descontraído em palco. Em 2010, quando esgotou o Maria Matos para apresentar em formato unplugged o décimo álbum de Divine Comedy, Bang Goes the Knighthood, Neil não descansou enquanto não conseguiu que alguém do público pegasse no microfone e contasse uma piada.

Os dias eram fáceis para Neil - o que de resto tinha já ficado provado quando Cathy (a quem juraria amor eterno durante a nossa conversa), que fazia a primeira parte do concerto do namorado, chegou ao palco a confessar estar já um pouco bêbada, admitindo, por isso, que se divertisse especialmente naquela noite.

Na altura, Neil apresentava-se em palco vestido de banqueiro, chapéu e cachimbo, cheio de poses, trocar de pernas e olhares inquisidores - entretainment puro. Com graças sobre a economia portuguesa (a propósito do tema Complete Banker) e até sobre coisa nenhuma, escondeu a timidez atrás da guitarra e do piano. Agora, no entanto, o instrumento era outro, menos melódico. Infelizmente para ambos (se a ansiedade pagasse roaming...), a chamada demoraria a fazer-se. Quando aconteceu, Neil foi como uma seta: "Olá, como estás?" Bem, agora.

Estávamos em Setembro, duas semanas cumpridas sobre o lançamento de Foreverland, e Neil estava sozinho do outro lado da linha. Faz todo o sentido: ao contrário do que a maioria das pessoas pensa, o irlandês não é o vocalista de Divine Comedy, é o seu cérebro. Quando formou a banda, em 1989, Neil queria que ela fosse uma banda indie - e ela assim se apresentou ao mundo, em Julho de 1990, com Fanfare for the Comic Muse. Quando a banda inicial se separou, pouco tempo depois, Neil decidiu que o projecto Divine Comedy seria na verdade uma espécie de porta giratória, com músicos a entrarem e a saírem a grande velocidade, para lhe servirem o génio.

Leia a entrevista ao líder dos Divine Comedy na íntegra e outros temas na edição n.º 666 da SÁBADO, nas bancas a partir de 2 de Fevereiro.

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