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Isabela Figueiredo: “Sempre senti que me olhavam como uma deficiente”

03.12.2017 15:00 por Dulce Garcia 0
Ficou conhecida com um livro de memórias que escreveu debaixo de grande irritação quando as livrarias se encheram de um pós-colonialismo delico-doce. Estreia-se agora no romance. A sua Maria Luísa é uma gorda em guerra contra a normalidade.

Nasceu em Moçambique mas é loura, até parece alemã. Veio para Portugal adolescente, em 1975, e passou frio e vergonha. Era retornada, gorda e diferente. Mas tal como a heroína do seu primeiro livro de ficção [A Gorda, da editorial Caminho], esta professora de Almada, que aprendeu a reconciliar-se com o mundo a olhar para o mar da Palha, tem muita fibra. E talento. O seu segundo livro, depois do êxito de Caderno de Memórias Coloniais, já foi considerado um dos livros do ano (ver crítica no GPS). É a história de uma mulher que encolheu o estômago mas que continua a amar desmedidamente um homem que a deixou por ter vergonha do seu corpo.

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Diz que A Gorda é um livro sobre o amor. Um amor algo desencantado, não?
O amor não é um mar de rosas. As pessoas têm conflitos violentíssimos nas relações amorosas, e antes de iniciarem essas relações, como a Maria Luísa, o seu campo de guerra é o dos mais próximos – pai, mãe, irmãos. Com aqueles com quem nos cruzamos no restaurante está tudo bem, não entram na nossa esfera de auto-estima. E se tendemos a perdoar à família, com os maridos ou as mulheres as coisas são mais viscerais.

Porque o amor romântico implica uma relação de forças?
Sim, há uma guerra pelo poder, e quando as coisas correm mal aqueles que se amaram perdidamente passam a ocupar campos distintos na batalha, odeiam-se.

Será que passámos dos contos de fadas para o desencanto total – olhe-se para o número de divórcios –, mas na literatura e no cinema o amor ainda é idílico?
Tenho um primo mais novo e digo -lhe sempre para ter cuidado que a vida não é um filme de Hollywood. Estas partes mais feias, mais carnais do amor nem sempre aparecem na arte.

Sempre quis escrever?
Sempre acumulei cadernos, apontamentos, pensamentos.

Não a assustava editar um livro e ser arrasada pela crítica?
Não. Mas tenho tendência a escrever com base na minha experiência autobiográfica e como estudei literatura e conhecia o mundo académico, sabia que não tinha um lugar. Até que a literatura sobre pós-colonialismo começou a aparecer e isso enraiveceu-me. Comecei a ler coisas que não correspondiam em nada à minha experiência e pensei: esperem lá que eu já vos mostro como aquilo era mesmo.

Foi uma questão de raiva.
Foi [risos]. O Caderno de Memórias foi imediatamente aceite e isso deu-me alento. Também comecei a ver que havia escritores que se baseavam nas suas experiências autobiográficas, como o Paul Auster e a mulher, a Siri Hustvedt. Havendo lugar para mim, não tenho medo de me expor. Às vezes tenho problemas na escola, os pais dos alunos queixam-se de que não tenho credibilidade moral...

Porquê?!
Os meus livros têm asneiras, vernáculo, e um professor não vai à casa de banho [risos]. Já tive de pedir a colegas que recebessem os pais e explicassem que escrevo como Isabela, não é o meu nome, chamo-me Isabel Maria, e a personagem não sou exactamente eu. Também escondi o Caderno de Memórias da minha mãe. Perguntou-me sobre o que era e disse que eram memórias nossas de África.

Ninguém lhe contou a verdade?
Não, tive essa sorte [risos].

Porquê A Gorda não sendo gorda?
Não sou muito gorda agora, mas já pesei mais 42 quilos. Ser gorda foi uma experiência muito violenta, sofri muito, fui muito desamada e excluída. Isso marcou-me para o resto da vida. O livro começa com a gastrectomia que fiz há seis anos. Perdi todo esse peso e houve um sentimento de libertação, um desejo de viver enormes mas continuava a carregar uma grande mágoa. Tornou-se urgente escrever. O problema é que não conseguia porque a escola ocupa o tempo todo. Não consigo escrever se tenho apenas uma hora. Para mim é a imersão total, são 24 horas por dia, um processo obsessivo. Só escrevo nas férias.

Há uma crueldade contra os gordos. E eles ainda sentem culpa.
O gordo é como o drogado. Sabes que o que estás a fazer te destrói mas não consegues parar. Sempre senti que os outros me olhavam como uma deficiente. Tive namorados que gostavam de mim como pessoa mas a certa altura afastavam-se. Como sou de ir à luta, perguntava porquê. Um disse-me que o meu aspecto não era adequado.

É preciso arcaboiço para ouvir isso...
É preciso ter muita força para continuar. A pessoa até estava a tentar ser delicada mas a verdade era esta: "Não posso andar contigo na rua porque é uma vergonha." Sentes-te uma aberração. Até os magros que se dão connosco parece que nos estão a fazer um favor... Como não obedecemos ao cânone passamos a ser marginais.

E no entanto há uma idolatração pela comida...
Está tudo na nossa cabeça e na cultura. Se eu for para países onde as pessoas gordas são estimadas por serem consideradas saudáveis e ricas, é ao contrário. Quando fui à Índia vinham tocar-me nos braços. Mais nas aldeias, nas cidades apalpavam-me mas era sexualmente. O meu corpo é o mesmo aqui e na Índia, mas lá presta – aqui não. Se olhamos à nossa volta, as mulheres têm todas celulite e estrias, sejam magras ou gordas, têm pneu, o peito a cair.

O mercado da moda e da beleza faz lembrar aquelas ditaduras em que uma minoria faz atrocidades sob o olhar plácido da maioria que obedece.
Há um discurso público que é aceite, recebemo-lo e passamos a integrá -lo para fazer parte do sistema.

O apego aos livros e à cultura não foi uma forma de se vingar? "Não sou a mais bonita mas posso ser a mais interessante."
Comecei a ler muito cedo. O meu pai lia e queria que eu estudasse e fosse uma mulher independente.

Não era muito comum na época.
Mas ele era feminista [risos]. Estimulava a minha educação, levava-me a acontecimentos culturais. Era electricista, tinha pouca educação escolar mas gostava desses eventos. Já a minha mãe, estava sempre a chamar -me: "Isabel Maria pára de ler e anda estudar." Fui buscar tudo aos livros.

Depois veio de Moçambique para Portugal [em 1975] e caiu-lhe outra praga em cima: a de retornada.
Que eu escondia. Às vezes tinha mesmo de dizer, e nessa altura ouvia coisas desagradáveis: que tínhamos enriquecido a roubar os desgraçados... Não me sentia nada culpada, aquilo não me servia. Podia servir ao meu pai, que explorava os trabalhadores, a mim não.

No Caderno de Memórias Coloniais, e também n’A Gorda, percebe-se que adorava o seu pai mas detestava certas coisas nele, como a forma como tratava os negros.
Gostava tanto de ter gostado do meu pai plenamente, mas não era possível... Já tinha sido formada politicamente pelos livros que ia buscar à biblioteca, do Alves Redol, do Manuel da Fonseca. Comecei a perceber que o mundo do meu pai não estava certo e isso criou um dilema em mim. Cheguei a ter muita vergonha dele, por exemplo quando entrávamos num táxi e o taxista começava com aquela conversa reaccionária e ele acompanhava... Foi o meu grande amor. Amei-o e odiei-o profundamente.

O seu primeiro desgosto amoroso foi tão grande como o da Maria Luísa? O seu David também a rejeitou devido à aparência?
Foi. Quando percebi que tinha vergonha de mim não aceitei. Esse David existiu e foi um amor fortíssimo. Ainda lido com ele... Quando gosto de alguém nunca gosto como gostei desse homem, com esse grau ou quantidade de amor. Foi tão forte que fiquei psicologicamente afectada, com depressões profundas em que deixei de saber quem era. Este livro ainda é uma declaração de amor, uma forma de dizer: gostei tanto de ti e tu não viste, caraças!

A sua cabeça mudou com a gastrectomia?
Não, continuo a ter vontade de comer mas não posso. O corpo é que mudou radicalmente, nem consigo enfrentar as fotografias antigas. É como voltar ao passado e àquela violência. Não ter o que vestir – usava o 54, só conseguia comprar roupa na C&A –, a minha mãe sempre a chatear-me, as pessoas a olharem-me de lado.

É de profunda ironia a ideia de que os gordos são uns bem -dispostos.
Não são. Gozam consigo mas por defesa. Quando entrava numa reunião, num cenário como este, a primeira coisa que fazia era sentar-me – muito apertada – e dizer: "Fazem estas cadeiras tão pequenas." Atirava a gordura para cima da mesa para que todos se rissem e me deixassem em paz. E na primeira aula fazia o mesmo: este é o meu nome, tenho três cadelas, sou gorda, nasci em Moçambique mas não sou preta, sou branca.

E eles nunca gozaram consigo?
Não. Mas eu tinha medo que me arranjassem uma alcunha, não aguentava mais alcunhas.

O amor não é para todos, diz-se. É ainda mais difícil para os gordos? Restringe em muito as hipóteses de encontrar par?
Quase totalmente. Para os homens é difícil; para as mulheres ainda pior. Quando vemos um homem gordo com uma mulher magra a primeira coisa que nos vem à cabeça é: aquele deve ter muito dinheiro para ela o aturar. Se for uma mulher gorda com um homem normal... não se percebe, não se aceita. Já se forem dois gordos, está certo. É como se se juntassem duas pessoas da mesma raça. Antes, um preto com uma branca também era estranho. Parece que o gordo não pode ser atraente sexualmente. Fui rejeitada por isso e ainda hoje se me interesso por um homem penso logo: não vai gostar de mim, com tanta mulher da minha idade linda que há para aí... 

Artigo originalmente publicado na edição 657 de 30 Novembro 2016.

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