Na ressaca dos Arctic Monkeys, dos The Libertines e afins, o rock britânico parecia votado a mais um interregno criativo, pelo menos enquanto as editoras conseguissem explorar o filão comercial dos produtos sucedâneos que surgiram, precisamente, após o boom do início do século. Ou seja, no que ao género musical diz respeito, adivinha-se uma longa travessia no deserto. Nitidamente em contraciclo, em 2015, os Wolf Alice lançaram o seu álbum de estreia (My Love Is Cool) e o rock britânico, de feição mais alternativa, parecia renascer, ainda que, aproveitando a lição dos Arctic Monkeys, fosse buscar alguns ensinamentos ao grunge.

Visions of a Life, o segundo disco da carreira do quarteto britânico, vem amplificar o burburinho criado aquando da edição do seu predecessor, cimentando os Wolf Alice nos lugares de topo do rock britânico actual. No que à sonoridade diz respeito, o álbum move-se em terrenos familiares, algures entre o rock de feição mais clássica, misturado com elementos shoegaze, riffs de guitarra que, muitas vezes, remetem para o grunge de início dos 90s, aqui e ali, um pouco de psicadelismo à mistura e uma incorporação bastante acentuada, em certos momentos, de elementos electrónicos. Sendo um álbum rock, sem ser, no entanto, necessariamente orgânico, Visions of a Life tem o mesmo firmamento que, por exemplo, os álbuns dos The XX: as mesmas atmosferas, uma identidade de angústia e um toque presunçoso muito britânico.

Dizer que os Wolf Alice são a salvação do rock alternativo britânico é uma afirmação que pode, de momento, não ser ainda sustentada. No entanto, a verdade é que, ainda que não sejam o messias, são certamente os apóstolos mais devotos e eficazes na pregação da palavra. 

Crítica de: Filipe Lamelas
Nota: 4 Estrelas



Visions Of A Life
Rock alternativo || Ed. Dirty Hit
€13,90