Para poder adicionar esta notícia deverá efectuar login.
Caso não esteja registado no site da SÁBADO, efectue o seu registo gratuito.
36 horas em Bogotá
Oito restaurantes para experimentar este fim de semana
De Tesla pela Beira Interior
A Ilha do Ibo já ali no Cais do Sodré
Ébano é o livro do jornalista e escritor polaco Ryszard Kapuscinski
A conjuntura política internacional é favorável à publicação de obras de índole jornalística, o que talvez explique a "redescoberta" de Ryszard Kapuscinski (1932-2007), jornalista e escritor polaco que várias vezes foi apontado para o Nobel. Kapuscinski viveu muitos anos em África e os portugueses devem-lhe uma das obras centrais sobre a descolonização de Angola.
Kapuscinski não foi apenas um jornalista competente, é um autor no mais amplo sentido da palavra. Ébano, agora reeditado, colige 30 textos escritos a partir das suas experiências ao longo de 40 anos, em países como Gana, Mauritânia, Tanzânia (incluindo Zanzibar), Uganda, Quénia, Nigéria, Etiópia, Ruanda, Libéria, Sudão, Senegal, Eritreia, etc.
Como sempre, a escrita flui com naturalidade, misto de reportagem e diário de viagem, um livro sobre "algumas pessoas de lá, sobre os encontros que tive com elas, o tempo que passámos juntos". É deveras curiosa a afirmação de que África só existe "como conceito geográfico", tal a multiplicidade de culturas, hábitos e costumes.
"Toda a civilização técnica do século XIX foi levada para o interior à cabeça dos seus habitantes" é um bom exemplo das sínteses, literariamente bem conseguidas e factualmente exactas, com que o autor pontua o livro. O mesmo não se pode dizer do tom paternalista de certas passagens. Por exemplo, a independência do Tanganica (1961), actual Tanzânia, é relatada com humor não isento de bílis anticolonial. Execrar o colonialismo é uma atitude sensata, que dispensa a caricatura da realidade. É um disparate afirmar que "um simples funcionário dos correios de Manchester" recebesse, ao chegar ao Tanganica, casa com piscina, jardim, carros e criados. É provável que isso acontecesse com um juiz transferido directamente de Old Bailey (Londres) para Dar es Salaam, mas nunca com um funcionário subalterno. Kapuscinski não resiste ao cliché dos colonos doublé de nababos, como aliás já tinha ensaiado em Mais um Dia de Vida, o livro sobre Angola.
Traduzido a partir da edição alemã, o livro teria ganho em manter o título Febre Africana, mais assertivo do que Ébano, o título original. A metáfora (infeliz) não ilude o acto falhado.
Crítica de Eduardo Pitta
Nota: 3 estrelas
Ryszard Kapuscinski
Ed. Livros do Brasil
326 págs.
€17,70