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Em países pobres, ou com maior tradição de pobreza, qualquer esmola é vista pelos mendigos como uma benesse dos chefes. Donde, para quê mudar de chefes? António Costa, que intuitivamente sabe disto, limita-se a agir em conformidade
Conheço gente do psd que anda com a cabeça caída. E perdida. Uma sondagem recente mostrou que o PS continua acima dos 40% – e os sociais-democratas, ainda sem líder, vegetam cá para baixo, na casa dos 20 e tal. Como é possível?
Sim, como é possível explicar a popularidade de um Governo quando o País arde; as armas são roubadas dos quartéis; um hospital público infecta e mata doentes com legionela; sem falar das pequenas mentiras que se descobrem todos os dias? A resposta é dupla: porque há dinheiro e não há oposição.
Sobre o dinheiro, nada a dizer: qualquer estudo sério sobre opções eleitorais – sugestão de leitura: Democracy for Realists, de Christopher Achen and Larry Bartels – relembra continuamente que a carteira é o indicador mais importante. Se houver dinheiro, ou se a banca o emprestar, questões aparentemente severas (como a corrupção ou a "ética" dos governantes) interessam para muito pouco – e interessam a muito poucos.
Esta verdade melancólica torna-se ainda mais incontornável em países pobres, ou com maior tradição de pobreza: qualquer esmola é vista pelos mendigos como uma benesse dos chefes. Donde, para quê mudar de chefes? António Costa, que intuitivamente sabe disto, limita-se a agir em conformidade: a subida do salário mínimo, sem dar contas aos parceiros sociais, é a prova de que o homem sabe para onde navega.
Mas a popularidade do Governo explica-se pelo estado da oposição. A saída de Passos, em teoria, seria um bálsamo para o PSD. Segundo especialistas diversos, o homem era um morto-vivo – e, pior ainda, funcionava como um seguro de vida para a frente de esquerda e para a eterna popularidade do PS.
Pois bem: foi-se Passos, o PSD não arrebitou e os socialistas continuam a assobiar para o ar. De quem é a culpa? Facto: a mudez de Rui Rio, que evita comentar qualquer assunto relevante para a Pátria, é o retrato da ineficácia laranja (Santana, apesar de tudo, fala mais), mas convém não exagerar no chicote. O que é válido para o Governo, é válido para o PSD: quando o povo tem dinheiro no bolso, a oposição fica sem discurso no palanque.
não é todos os dias que encontramos um actor de Hollywood a pensar com clareza. Mas aconteceu. Matt Damon, sobre os escândalos sexuais que abalam a indústria, disse duas coisas que merecem aplauso.
A primeira é que nem todos os homens são predadores sexuais por definição, uma ideia óbvia que tem sido esquecida nas fogueiras recentes. Houve condutas reprováveis ou mesmo criminosas?
Sem dúvida. Mas os espíritos mais radicais gostam de vulgarizar a seguinte ideia: onde há macho, há abuso. O raciocínio parece-me tão sinistro como a afirmação inversa: onde há fêmea, há uma oportunidade.
Mas Matt Damon foi mais longe ao afirmar que, de hoje em diante, acordos de confidencialidade devem ser enterrados. Antigamente, quando alguém acusava um produtor ou actor de comportamento impróprio, os grandes estúdios (ou os próprios acusados) tentavam chegar a acordo, mesmo que a denúncia fosse fantasiosa. O cálculo era simples: entre o dano potencial a um filme (e a uma carreira) ou uma espécie de "indemnização" para parar a chantagem, a segunda opção era mais rápida e barata.
Matt Damon defende, com razão, que as acusações não devem ser tratadas na confidencialidade. E acrescentou: quem acusa falsamente, deve ser processado por difamação. Essa, aliás, é a única coisa que espanta no rol de acusados: se muitos se dizem inocentes, por que motivo não respondem com os tribunais? A passividade das criaturas legitima todas as suspeitas sobre elas.
Infelizmente, Matt Damon não levou até ao fim o seu saudável raciocínio para condenar produtores ou realizadores que afastam actores simplesmente porque estes foram acusados na praça pública. Um tal gesto de cobardia não é apenas um insulto à presunção de inocência. É um princípio perigoso que se volta facilmente contra qualquer um.
Se a primeira reacção da indústria é despedir quem é suspeito de ter lepra, existe sempre o risco de Hollywood inteiro se transformar numa colónia de leprosos.
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