Para poder adicionar esta notícia deverá efectuar login.
Caso não esteja registado no site da SÁBADO, efectue o seu registo gratuito.
Livro "inédito" de Herberto Helder vai ser publicado em Maio
Crítica de Livros: Irmão de Gelo
Crítica de Livros: Os Prémios
Crítica de Livros: Publicação da Mortalidade
As cartas entre Jorge Amado e José Saramago (sempre com Zélia e Pilar à espreita) foram organizadas pela Fundação do primeiro e com a bênção da viúva do escritor português
Espreitar pelo buraco da fechadura é eufemismo - ler Com o Mar por Meio - Uma Amizade em Cartas fará qualquer leitor julgar-se imediatamente na Bahia com Jorge Amado, em Lanzarote com José Saramago ou até em Paris com ambos. Sempre, claro, na companhia de Zélia e Pilar. Nas muitas cartas, bilhetes, cartões e faxes trocados entre os dois escritores entre 1992 e 1998, José e Jorge falam sobre eles e sobre os outros - sobretudo sobre as personagens que vagueiam pelo meio literário. Sempre, claro, de forma muito literária.
"Também acho que o Fórum Jovem foi interessante. Como de costume, demonstrada a boa-fé dos velhos, apaziguada a desconfiança dos novos, na hora de acabar é que as coisas estavam maduras para começar", escreve José a Jorge. Noutra carta, Jorge desabafa: "Aqui o sufoco é grande, problemas imensos, atraso político inacreditável, a vida do povo dá pena, um horror."
A ternura que os dois sentiam um pelo outro não tem palavras - e, daí, talvez seja até traduzida em bastantes: dos "Querido" iniciais aos "abraços fortíssimos", aos "afetuosamente" e aos "devoto" das despedidas, a linguagem é sempre a do amor.
Este amor, que estava já documentado em centenas de cartas, foi agora reorganizado pela filha de Jorge Amado. No livro, ela conta: "Em 1986, quando foi criada a Fundação-Casa de Jorge Amado, o escritor entregou à instituição dezenas de caixas de correspondência, com toda uma vida de missivista fervoroso. A essas caixas, novas foram se somando ao longo dos 15 anos que o escritor ainda viveu. [...]"
Paloma continua: "Estávamos justamente trabalhando com as cartas do José Saramago, animadas com a possibilidade de publicarmos um livro ilustrado com as imagens do nosso acervo, quando recebi uma mensagem de Pilar del Río, minha amiga e mulher de José."
A mensagem sugeria uma Casa Amado-Saramago na Flip de 2017. "Explosão de alegria", diz Paloma. Mais à frente na conversa, a confirmação de que a amizade entre Amado e Saramago perdurará: em Lisboa, Pilar tinha separado as cartas enviadas por Jorge já a pensar num livro. O livro aconteceu. E é uma declaração de amor.
Com o Mar pelo Meio
Jorge Amado e José Saramago
Ed. Companhia das Letras || 120 págs.
€18,30