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Sporting vence Boavista com penálti de Bas Dost
Aproveitando o Sp. Braga-FC Porto, um dos jogos grandes da próxima jornada (há também o Rio Ave-Benfica), a SÁBADO entrevista (via telefone, que ele está na Ucrânia) o último treinador a ganhar títulos nos dragões (Supertaça de 2013) e nos minhotos (Taça de Portugal de 2016)
Veja lá bem o currículo sensacional deste treinador: duas presenças seguidas nos quartos de final da Taça de Portugal pelo Pinhalnovense, qualificação inédita para a UEFA pelo Paços de Ferreira, uma Supertaça nacional pelo FC Porto, uma Taça de Portugal pelo Sp. Braga e o formidável treble pelo Shakhtar Donetsk nos últimos três meses sem ter feito um único jogo em casa. Eis Paulo Fonseca no seu melhor.
Concentremo-nos na parte da Supertaça pelo FC Porto em 2013 e da Taça de Portugal pelo Braga em 2016. Daí para cá, nem um nem outro ganham o que quer que seja. Só por isso, Paulo Fonseca recebe um Whatsapp, primeiro, e um telefonema, depois. Habemus entrevista.
Paulo, boa tarde, tudo bem?
Boa tarde, Rui. Acabámos de chegar ao hotel e partimos daqui a 40 minutos. Quando quiser, comece.
Onde estão?
Em Kiev, a nossa casa.
E vão para?
Kharkiv, a nossa casa.
Hã?
Desde que a guerra rebentou em Donetsk [2014], os jogadores do Shakhtar vivem e treinam em Kiev.
E jogam em Kharkiv?
No ano passado até jogávamos em Lviv, ali perto da fronteira da Polónia. Só que isso era no lado oposto de Donetsk e não havia adeptos do Shakhtar por aí além, uns 600. Fomos então para Kharkiv, a meio do caminho entre Donetsk e Lviv, a 300 km. A cidade já não tem o clube Metalist desde 2016, por insolvência, e aproveitámos para dar uso ao seu estádio.
Quantos adeptos?
Uns dez mil, porque Kharkiv foi o refúgio de muitos habitantes de Donetsk no pós-guerra.
O Paulo Fonseca nunca chegou a jogar em Donetsk?
Nem sequer conheço a cidade, quanto mais o estádio. Vivo em Kiev desde que assinei pelo Shakhtar e treinamos num minicentro à saída da cidade. Agora, por exemplo, vamos viajar para jogar em casa.
Como é conviver na cidade do maior arqui-rival, Dínamo Kiev?
É tranquilo, aqui a rivalidade é saudável e não se ouvem bocas ou coisas parecidas. É tudo calmo.
E como é que foi a festa de campeão do Shakhtar em Kiev?
Lá está, foi diferente de tudo e nem houve festejos nas ruas. Agora foi uma proeza assinalável para todos os profissionais do Shakhtar, de dentro e fora do campo, que foram obrigados a sair de Donetsk por causa da guerra. O Dínamo tinha sido o campeão nos dois últimos anos e acabámos por interromper o ciclo.
Conhecem muitos portugueses?
Agora, só a embaixadora, porque o Antunes, que era do Dínamo Kiev, foi para Espanha durante o Verão.
Como é que o Paulo foi parar aí?
Jogámos com o Shakhtar nos quartos de final da Liga Europa e eles gostaram do nosso trabalho no Braga. Contactaram-me através de um agente português chamado Amadeu Paixão, ligado ao Shakhtar, e formularam-me o convite. Como sempre tive a ambição de treinar fora de Portugal, dei o salto.
Essa época do Braga foi, aliás, bem boa.
Acabámos o campeonato em quarto lugar, fomos primeiros na fase de grupos da Liga Europa.
Primeiros?
Pela primeira vez, o Braga acabou uma fase de grupos à frente de todos.
Quais eram os clubes?
Groningen, Marselha e Slovan Liberec.
Aaaaaah, aquele jogo em Marselha sem as chuteiras.
Esse mesmo.
Como é que roubaram as chuteiras aos jogadores do Braga?
Tivemos o treino de reconhecimento na véspera e as coisas ficaram no balneário para o dia seguinte, como sempre. Aquilo tem segurança e câmaras por todo o lado. No dia seguinte, os roupeiros vão de manhã ao estádio e comunicam-nos que tinha desaparecido tudo. Por coincidência, o segurança deixou-se dormir e as câmaras deixaram de funcionar. Até à hora do jogo, foi uma azáfama tal com as marcas a enviar chuteiras para os jogadores.
Continue, continue, sobre a época bem boa do Braga.
Fomos às meias-finais da Taça da Liga e conquistámos a Taça de Portugal.
Na final com o FC Porto, o Braga desperdiçou uma vantagem de dois golos tal como um ano antes, contra o Sporting. Como é que um treinador prepara os jogadores para a repetição de um filme de má memória?
Mesmo depois do 2-2 do André Silva, tive sempre a sensação que a história não se iria repetir e disse isso aos jogadores antes de se iniciar o prolongamento. Agora, se me pergunta se senti à nossa volta aquele pânico, claro que sim. Não é normal estar duas vezes em vantagem por 2-0 e deixar-se empatar no mesmo estádio em anos seguidos.
E os penáltis, como é que escolhem os jogadores?
Há a parte do treino e depois há a outra parte, porque o bater bem depende da personalidade e do momento. Dentro do lote de jogadores mais fortes em todos os capítulos, escolhemos aqueles cinco e fomos bem sucedidos.
Quem marcou o decisivo?
O Marcelo Goiano.
Quando viu a bola a entrar, o que lhe passou pela cabeça?
Uyyyy, tanta coisa, um misto de alegria e alívio. Foi um momento único que se estendeu por horas e horas até sermos recebidos por uma multidão em Braga na Praça do Município.
Ainda por cima, a final do Jamor é com o FC Porto, onde o Paulo Fonseca trabalhara dois anos antes. O que fica dessa época interrompida em Março?
Fiz uma análise profunda e, obviamente, há coisas que não repetiria, só que prefiro olhar para essa época como uma de grande aprendizagem para o futuro, até porque conheci muita gente boa, e eis-me aqui na Ucrânia, a cumprir mais um sonho da minha vida, o de treinar no estrangeiro.
Antes de treinar, era jogador. E antes de jogar, era adepto?
Sim. Sempre que podia, ia a Alvalade ou à Luz. Mais a Alvalade, a acompanhar um vizinho meu.
Tem memórias desses tempos?
Um Sporting-Benfica em que o Jordão marcou dois golos e o Manuel Fernandes um. Lembro-me da estreia do Marlon Brandão e de um avançado holandês chamado Peter Houtman. Lembro-me do Sporting do Luisinho, Douglas e Balakov.
E defesas-centrais?
Baresi e Maldini.
E também ia à Luz, era?
Aquilo era assim: jogava nas camadas jovens do Barreirense e metíamo-nos no barco para Lisboa, mal acabassem os jogos ao domingo de manhã. Estou agora a recordar um dia em que fomos ver o Benfica-FC Porto para o Terceiro Anel. Um clássico diferente porque aquilo estava a abarrotar. A transbordar até. Ganhou 3-1 o Benfica, hat-trick do Rui Águas.
Subiu a sénior no Barreirense?
Exacto, fui treinado por Norton de Matos e Jean Paul. Como o clube não tinha muito dinheiro, era uma equipa de miúdos dos juniores e demo-nos bem na II Divisão.
E depois?
Fui contratado pelo FC Porto.
Como?
Só que nunca joguei pelo FC Porto, fui sempre emprestado: Leça, Belenenses e Marítimo. Curiosamente, estreei-me na I Divisão num Leça-FC Porto e a marcar o Mielcarski. Às tantas, no negócio Capucho, saí em definitivo do FC Porto.
Para o Vitória?
Sim, Guimarães.
E daí para o Estrela da Amadora?
Do Jesus.
Que tal?
Difííííííícil, muito exigente e competente [Paulo começa a rir-se]. Ele já estava à frente de todos.
Como?
Previa situações, antecipava cenários e era atentíssimo aos detalhes.
E o Paulo era de marcar golos?
Poucos, mas bons [mais uma gargalhada]. Um ao Benfica, na Luz, ao Preud'homme. Ganhou 2-1 o Belenenses e estreei-me no Domingo Desportivo.
Algum avançado chato?
Tantos, tantos, tantos. Jardel era incrível, porque já sabíamos o que ele ia fazer e, mesmo assim, ele enganava-nos. E o Jimmy Hasselbaink, um poço sem fundo de força. Travá-lo era impossível. Ó Rui, posso ligar-lhe daqui a 5 minutos?
Com certeza.
Peço desculpa, tenho aqui o Andrei Shevchenko à minha frente.
[cinco minutos depois, nem mais nem menos]
O Shevchenko?
É o seleccionador da Ucrânia e apanhou-me aqui no hall do hotel para falar sobre alguns jogadores do Shakhtar. É esta a magia do futebol. Passei a vida a ver o Shevchenko na televisão e agora estou a falar com ele. Desculpe lá a interrupção.
Não faz mal, também só tenho mais uma pergunta. É sobre o Braga. Qual a possibilidade de um dia ser campeão nacional?
O presidente tem esse sonho e é legítimo. Tanto assim é que o Braga esteve a discutir o título com o Benfica em 2010, só que sou muito realista e a diferença entre os grandes em relação ao Braga é enorme. O Braga gasta 17 milhões de euros, os grandes têm quase 100 milhões. É enorme mesmo. Um clube que queira ser campeão tem de ter muito dinheiro, adeptos a apoiar em todos os jogos e jogadores de grande nível. Quem me dera que o Braga fosse campeão, só que vejo isso cada vez mais difícil de acontecer porque o desnível é grande e cada vez mais acentuado.
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